A Terra é uma espaçonave, que abriga 6,7 bilhões de tripulantes, seguindo rumo a um destino ignorado. O universo é dinâmico. Nada nele é estático, embora às vezes haja essa impressão para um observador desavisado ou que tenha um ângulo de visão desfavorável. Tudo é agitado, está em constante movimento. Não há astro, estrela ou corpo celeste que estejam parados. O conjunto move-se numa determinada direção, para um certo rumo, que o homem pode apenas especular, jamais saber com certeza, qual de fato é. Atualmente, a espaçonave "Terra-1" está em perigo. Acha-se superlotada, por exemplo, mas seus tripulantes continuam aumentando. O lixo acumula-se por toda parte. Os suprimentos de água potável estão se exaurindo. Acerca dessa exaustão, a revista "Times" publicou, no início do mês, uma completa e detalhada matéria. Pedaços da nossa nave cósmica são queimados para a geração de energia. O calor aumenta, a fumaça sufoca e a tripulação está mais ameaçada do que nunca, embora a maioria sequer se dê conta disso. Todavia, se destruirmos a espaçonave, não teremos outra! A vida desaparecerá simplesmente desta parte do universo. Não teremos outra Terra onde viver. Os planetas vizinhos são inóspitos. Para onde os tripulantes conduzirão esta bela astronave azul? À destruição? Ao paraíso feito pelo homem? Mas como esse animal contraditório poderá estabelecer a tão sonhada Idade de Ouro se um bilhão de pessoas passam fome, enquanto o mundo bate recordes e mais recordes de colheita e em alguns países os agricultores são até pagos para não plantar? Por outro lado, é estranho, e sobretudo contraditório, que neste momento, em que a espaçonave Terra conta com 6,7 bilhões de tripulantes, as pessoas se sintam tão solitárias. Nunca o ser humano sentiu-se tão só quanto agora. E principalmente no meio de multidões. Os indivíduos fogem do diálogo, daquele profundo e com substância, escondidos em redomas de desconfiança e medo. Isto vai a tal ponto, que o escritor D. H. Lawrence chegou a desabafar: "Falar com o homem de hoje é tentar ter relações humanas com a letra ’x’ em álgebra". E é mesmo. Essa falta de diálogo estimula preconceitos. Favorece injustiças. Fomenta ódios que explodem no hediondo exercício de matar. De extinguir esse dom, essa chama, esse mistério, esse milagre, que é a vida. Nota do Editor: Pedro J. Bondaczuk é jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – pedrobondaczuk.blogspot.com.
|