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Opinião
29/12/2010 - 07h00
Nivelando por baixo
Christian Rocha
 

Há várias décadas entregamos aquilo que só existe no arquipélago em troca de coisas que podem ser conseguidas em qualquer lugar. Poder público e iniciativa privada chamam isso de progresso. Se fôssemos uma capital regional, um pólo financeiro ou industrial, eu entenderia. Mas somos uma cidade simples, originalmente formada de ranchos de pesca interligados por trilhas de terra batida. Até bem pouco tempo não havia carros e energia elétrica em Ilhabela. Hoje há carros e energia elétrica, mas há também assaltos e poluição do mar e dos rios. Nada obtivemos de bom nestes últimos anos que não viesse acompanhado de uma contrapartida igual ou maior. A agilização da travessia marítima, por exemplo, é algo que beneficia tanto aqueles que querem trazer para cá sua contribuição como aqueles que pretendem roubar o ouro que aqui ainda existe. Resta saber como vamos lidar com essa matemática de perdas e ganhos.

Além de entregarmos aquilo que só existe aqui em troca de coisas ruins, medíocres ou de qualidade duvidosa, ainda não aprendemos a receber as poucas coisas boas que chegam até aqui. Recebemos com a mesma falta de entusiasmo o sábio e o idiota, o curandeiro e o charlatão, o santo e o criminoso. Observe esta cidade e diga-me se ela é capaz de prescindir de sábios, curandeiros e santos. Ainda que hoje estas pessoas não se manifestem como nos livros e nos mitos, elas continuam existindo; o fato de não as vermos ou não as distinguirmos dos idiotas, dos charlatães e dos criminosos demonstra que estamos mais cegos do que nunca. Daí para sermos enganados, é um pulo.

O que quero dizer nestes dois parágrafos é que não apenas entregamos de bom grado as melhores coisas que existem neste arquipélago em troca de coisas efêmeras, ruins ou sem valor, nós também não sabemos distinguir o bem e o mal, seja ele o bem de que já dispomos ou o bem que nos chega de além-mar. Somadas estas duas características, fica fácil compreender por que a tranqüilidade dos ranchos caiçaras foi substituída por rachas de motocicletas, por carros com o capô aberto e música ruim a todo volume, por sub-casas e mansões que deformam as encostas ilhabelenses e derramam esgoto em praias e cachoeiras, por uma correria que nada tem a ver com estar num arquipélago. Estamos nos nivelando por baixo e nos colocando num ponto tal que não seremos mais capazes de reconhecer o ouro mesmo que ele cubra nossos corpos. Assim como não fomos capazes de reconhecer e manter o legado caiçara, também não temos sido capazes de reinventá-lo e dar a esta terra algo que se aproxime da simplicidade gentil dos antigos. A partir daí não teremos mais outra opção senão aceitar qualquer lixo que se nos imponha — não apenas por incapacidade de reconhecer as coisas boas que chegam a nós, mas também porque ninguém mais terá motivos para oferecê-las a nós.

Há aproximadamente três décadas, talvez mais, Ilhabela tem sido exatamente isso.


Nota do Editor: Christian Rocha vive em Ilhabela, é arquiteto por formação, aikidoka por paixão e escritor por vocação. Seu "saite" é o Christian Rocha.
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