Vou falar um pouco da sessão da Câmara da última terça-feira, quando os ânimos esquentaram a ponto de ficar no ar o rompimento de uma aliança que atuou com bravura e empenho nos últimos quatro anos. Estou me referindo ao confronto entre os vereadores Charles Medeiros e Eduardo César, que teve como pivô a votação do orçamento e das emendas. Estando presente, assisti a tudo, conversei com muita gente, tentei chegar perto do futuro Prefeito para pedir uma explicação, saber o porquê da posição inflexível. Como é sabido, toda conduta humana tem suas razões, em política nem sempre é possível vislumbrar o que há por baixo da primeira camada. Obviamente não foi possível falar com o vereador Eduardo César, há uma espécie de cordão cirúrgico à sua volta, dificultando o acesso. O regimento interno da Câmara diz que antes de ser votado o orçamento devem ser votadas as emendas. O vereador Eduardo César fez um pedido para que fossem votadas em bloco, pedindo a dispensa da leitura das mesmas. Deu para sentir que o ambiente ficou carregado de eletricidade, o murmúrio podia ser ouvido à distância. O vereador Mauro Barros, Maurão, do PFL, não reeleito, solicitou votação em destaque das emendas 90 e 96, de autoria dos vereadores Charles Medeiros e Rogério Frediani, que referem-se respectivamente à FUNDAC - Fundação da Criança e do Adolescente, que deveria receber verba de R$ 150 mil e ADUBA, Associação dos Deficientes de Ubatuba, que passaria a receber R$ 36 mil ou R$ 3 mil por mês. O vereador Ricardo "Chamagás" Barbosa, PFL, não reeleito, seguindo fielmente os passos de Eduardo César, defendeu o "sepultamento" das emendas. Sabemos que o que norteia a conduta dos senhores vereadores é a governabilidade, nunca interesses pessoais como pode parecer aos leigos em política. Sobre flexibilidade de caráter falaremos em outra oportunidade. Colocada em discussão a votação, a maioria dos vereadores foi favorável à dispensa de leitura. Posteriormente foram votados - e rejeitados - os destaques, ou seja, as verbas para as crianças e os adolescentes. Como a platéia estivesse lotada, com uma ala composta quase que exclusivamente por membros da ADUBA, seguiu-se um debate constrangedor entre o presidente da entidade, o ex-vereador André Luiz dos Santos e o vereador Eduardo César. Aqui cabem algumas indagações ao futuro Prefeito. Qual a razão de submeter-se a um desgaste desnecessário, colocando contra si uma entidade conhecida por sua combatividade? Dizer que foi em nome da governabilidade não faz sentido, é sabido que emendas não têm a capacidade de inviabilizar o governo. Poderia ser interpretado como desconhecimento da matéria, o que não procede, uma vez que Eduardo César participou da elaboração de emendas em anos anteriores. O que seria então? Eu torno a perguntar, se as emendas nada podem fazer para inviabilizar um governo, qual a razão de tanto empenho em derrubá-las? Como resultado dos ânimos acirrados, passou desapercebido um detalhe. As emendas não foram votadas, apenas os destaques! Em seguida foi votado o orçamento, o que contraria o regimento. O vereador Charles Medeiros enviou ofício ao presidente Rogério Frediani solicitando nova votação da primeira discussão do orçamento. Na próxima terça-feira estaremos acompanhando o desenrolar da batalha, acrescida agora da reviravolta na composição futura da Câmara, que altera o panorama para o próximo exercício. Confesso ter ficado desapontado!
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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