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SEÇÃO
Crônicas
02/01/2011 - 09h00
Onde fica Catanduva?
Roberto Chaim
 

A atração entre eles era incomensurável, eram imantados, viviam um na órbita do outro. Um amor em conserva, como se para pegar melhor o tempero, eles se esperavam, curtiam o tempo em que haveriam de se encontrar.

Os árabes tem uma expressão - “estava escrito” - que ilustra perfeitamente o que está sendo transmitido; expressão só não colocada na língua original para não evocar Paulo Coelho, mas exprime as forças magnéticas que os atraíam.

Foi o acaso que os colocou em distância não permitida para pessoas que muito se querem, reciprocamente, um Tribunal Superior de Moralidade vetaria uma proximidade inferior a cinco metros, para duas pessoas que desejavam estar a zero centímetro afastados.

Tudo traçado por desígnios que nos fogem à compreensão começou a ser definido naquele cinema; quando sentaram-se com apenas uma poltrona vaga entre os dois. Como se as duas mãos, uma dele e a outra dela, obedecessem a mesma mente, elas se encontraram bem no centro da poltrona livre e se entrelaçaram. A permissão, e até a permissividade, deram sinal verde; a poltrona, antes vaga, já não estava mais, ele ocupou o lugar vazio, e quase a arrastou, também para aquele assento, somaram-se, fundiram-se e beijaram-se.

Até O Vento Levou tem um momento que chegou ao fim, e o filme a que eles assistiam também chegou ao final, e o convite para que ela o acompanhasse até o apartamento dele foi prontamente aceito, um sim quase que gutural, de quem tem a voz embargada pela espera, e ela repetiu como se temendo que ele pudesse interpretar como uma negativa: Sim... sim... sim.

As estrelas brilhavam, os anjos cantavam coisas do Chico Buarque, como “Eu te amo” (a música no ar foi escolhida pelo casal, repertório de anjo deve ser meio chato), e o resto do mundo, curioso, querendo assistir, mantinha-se em silêncio.

Entraram e espalharam pelas dependências do apartamento uma ou mais peças de roupas de que se livravam e se despiam, e sem rumo se encaminharam para a cozinha.

Ela nua, como ele sempre a sonhara, sonhou com um caliente e louco romance; bateu a mão sobre a pia e num gesto, quase que acrobático, sentou-se sobre o fogão, quanto calor liberou aquele amor e aquele fogão, antes que o amado pudesse impedir, o fogão fez um fogo de incontáveis graus centígrados. Imprudência dela, negligência da fábrica.
Como os fogões modernos são mal sinalizados, nem uma placa enorme dizendo que o acendimento era automático e aquela omissão quase fez dos sonhos uma cinza.

Aquele amor teria continuidade mais tarde, o tempo cura machucados, aliás o termo machucado é oportuno: Onde fica Catanduva? Não é lá que tem um hospital para queimaduras?

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