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SEÇÃO
Crônicas
16/01/2011 - 16h11
O mal entendido
Ivan Ferretti Machado
 

De 1990 para cá as coisas mudaram bastante em relação aos anos 60, 70 e finalzinho de 80. Até aí vigorava a famosa ditadura militar. As coisas eram bem mais rígidas do que agora. O povo tinha respeito por algumas regras imposta pela sociedade que nos dias de hoje já não mete mais medo em ninguém.

Naquela época a polícia vivia dando batidas até em procissão de Domingo de Ramos. Onde houvesse duas ou mais pessoas reunidas em nome de Deus eles paravam e exigiam documentos. E não adiantava vir com identidade, título de eleitor, reservista ou qualquer outro tipo de documento que não fosse a Profissional. Esses outros documentos não tinham valor nenhum. O que os meganhas exigiam era a carteira de trabalho assinada. Caso o indivíduo apresentasse a carteira e eles vissem que o sujeito não estava empregado pode ter certeza que o coitado iria passar por um interrogatório danado e depois de toda aquela burocracia eles anotavam o nome do cidadão em uma ficha presa a uma prancheta e se caso depois de um mês ele fosse autuado novamente e ainda estivesse desempregado, o mesmo era detido imediatamente por vadiagem e ficava alguns dias preso no xilindró. E com toda razão, pois naquela época, pelo menos aqui em São Paulo, existia mais emprego que gente para trabalhar, e só ficava desempregado por mais que uma semana quem realmente era vagabundo. A falta de mão-de-obra era tão grande que as empresas vinham na casa do sujeito, através de algum funcionário, oferecer emprego para ele.

E foi em uma terça-feira à tarde, comecinho dos anos setenta, que ali no bar do seu Antonio Português, na rua das Campânulas, estavam reunidas algumas pessoas em volta de uma mesa jogando dominó, quando o camburão encostou. O barulho do abrir e fechar das portas da C-14 era inconfundível. Mesmo que não estivessem vendo a viatura, pois eles costumavam parar um pouco antes do local que iriam dar a batida, só de se ouvir o abrir e fechar das portas já dava para saber que era a polícia.

O bar do seu Antonio, durante a semana, era freqüentado por uma turma de aposentados que ficava por ali tomando cachaça e jogando dominó o dia todo. E naquele dia quando o camburão estacionou próximo ao estabelecimento somente o Gerinha não era aposentado. Ele se encontrava de licença médica por conta de uma alergia que vez ou outra lhe encaroçava todo o corpo.

Os meganhas desceram de armas na mão, como era de costume, e já foi mandando o pessoal encostar-se à parede. Depois de darem uma geral em todo mundo pediram que todos apresentassem as carteiras de trabalho. Deveria ter umas oito pessoas ali no bar. Todos apresentaram a profissional e se justificaram que não estavam trabalhando por serem aposentados. Aqueles que iam passando pelo interrogatório eram ordenados a ficarem do outro lado da parede do bar. O último a ser intimado foi o Gerinha. Um dos soldados, um mulato de quase dois metros de altura, pegou a sua profissional e depois de averiguar que ele não era aposentado perguntou-lhe porque que não estava trabalhando. O Gerinha, coitado, na maior inocência do mundo respondeu que não estava trabalhando porque tinha alergia.

O soldado arregalou os olhos, encostou o revólver na sua cara e soltando fumaça por tudo quanto era lado berrou no seu ouvido:

- Sujeitinho insolente! Você está querendo gozar com a minha cara! Seu filho de uma prostituta!

Por pouco o Gerinha não apanhou naquele dia. A sorte dele é que o seu Antonio ao perceber o mal-entendido intercedeu a seu favor e a muito custo conseguiu explicar aos policiais que o rapaz estava de licença médica devido a uma alergia que o acometera.

Até hoje quando o pessoal se encontra com o Gerinha eles relembram dessa passagem. São fatos que ficaram perdidos no tempo e que vez ou outra a gente resolve contar para que não caia no esquecimento.

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