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Crônicas
27/01/2011 - 13h00
Um cachorro chamado Petit
Luiz Ernani Souza
 

Nas lembranças de um guri criado na campanha gaúcha está sempre presente um cachorro, predominantemente um vira-lata, companheiro e parceiro de todas as horas. Também tive um. Chamava-se Petit. Mestiço de muitas raças, preto com duas ou três pequenas manchas brancas, esperto e campeiro como ele só, pertencia a meus tios mas era só meu nas longas férias passadas na fazenda.

Como dizia minha avó: “juntou a fome com a vontade de comer”, estávamos sempre juntos, a corda e caçamba, soberanos incontestes daquela vastidão de campo e sol, daquele império de flechilhas, tacurus e macegas.

Insuperáveis pescadores de lambaris e joaninhas, eu retirando os peixes d’água e ele cuidando para que não saltassem de volta para o rio, tocando-os de leve com as patas dianteiras como que surpreso com a teimosia daqueles pequenos seres já em estertores fora de seu habitat natural.

Eu, guri descuidado e imprudente, ele atento aos perigos que nos cercavam a todo momento. Inúmeras vezes salvou-me do ataque de jararacas e cruzeiras, mordendo-as, com precisão, atrás da cabeça até estraçalhá-las por completo.

Caçadores das mais inusitadas espécies da fauna pampiana, empenhados no cerco de um zorrilho, fomos ambos atingidos com o jato fétido da urina do animalzinho, último ato do coitado antes de ter a jugular dilacerada pelo meu parceiro. Custou-nos caro essa proeza: ele proibido de se aproximar das casas e das pessoas, quase uma semana asilado em uma tapera velha que existia em um fundo de campo. Eu, obrigado a incontáveis banhos com um sabão quase tão mal cheiroso quanto o tal parente de gambá.

Morreu de velho o meu cachorro, ou de tristeza, sei lá. Quando meus tios mudaram-se para a cidade trouxeram-no junto. Dava dó vê-lo pelos cantos, o próprio retrato da amargura, remoendo as ausências e as lembranças dos descompromissados dias de companheirismo e amizade, tal como eu faço hoje, tão distante e saudoso daqueles memoráveis tempos.

“Se não há cães no céu, então quando eu morrer quero ir para onde eles foram”. A frase do Will Rogers não sai de minha cabeça enquanto alinhavo estas reminiscências, ainda escutando minha própria voz a repetir: “senta, Petit; deita, Petit: rola, Petit...”

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