Ouso dizer que o banheiro é o templo da curiosidade. Todas as vezes que visito alguém e me ocorre a necessidade de usar o banheiro já sei que ficarei por lá mais tempo do que deveria. Fecho a porta, sento no vaso e sempre à minha frente encontro um gabinete que abro, silenciosamente, e observo, detalhadamente, todo o conteúdo. É como se a marca do desodorante ou do papel higiênico ou do shampoo dissessem mais sobre aquela pessoa. E a forma como os objetos estão dispostos no armário? Tem espelho-armário ou só espelho? Redondo? Quadrado? Retangular? Com luzes ou sem? Como são os azulejos? E a decoração? Velas? Flores? Toalhinhas? E o sabonete? Líquido? Lush? Lux? Tapetinho no chão? Lavabo ou banheiro? Banheira, também tem? Hidromassagem ou louça? E as revistas, ficam aonde? Algumas nas gavetas. Outros mais descarados as deixam ao lado do vaso sanitário. Já outros, aparentemente, não lêem nada. Bom ar ou sem ar? Calcinhas penduradas no box, na torneira ou ensaboadas para serem jogadas na máquina, depois? Cuecas, sempre as encontrei jogadas no chão, num cantinho ou quando muito, em cima da pia mas raramente dentro do cesto de roupas suja. Certa vez, minha irmã veio para uma visita e durante uma de nossas conversas sobre o figurino que eu deveria vestir para uma apresentação ela sugeriu que eu levasse comigo uma bolsinha vermelha. - Mas eu não tenho nenhuma bolsinha vermelha - observei. E ela respondeu: Tem sim, está na gaveta do banheiro do seu quarto! Será que é obsessão de família?
Nota do Editor: Paula Tura é escritora, clown e em breve pintora. Mantém o blog: www.mercedesaemergente.blogspot.com.
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