Certo dia, resolvi fazer uma brincadeira com um amigo de faculdade que vivia me paquerando e mostrando mil e uma utilidades; coloquei um anúncio no jornal da faculdade dizendo: “Se você deseja conhecer um homem hábil, apaixonado pelo sertão e amante da literatura escreva para Robert Schramm. Robert curte rock, não tolera silêncio e acredita que ser honesto é um defeito. Muito hábil com as palavras, declara que o segredo da boa oratória e dos envolventes discursos está na conjugação das ideias, na apropriação dos discursos que circulam no hipertexto do cotidiano. Autor impetuoso, este nordestino tece redes de relação entre a literatura com Memórias Póstumas de Brás Cubas, do mestre Machado de Assis, o cinema com Terra em Transe, do grande cineasta baiano Glauber Rocha, a música com Asa Branca, do inesquecível Luiz Gonzaga e o programa de TV Ratinho Livre, uma verdadeira comédia da vida privada, promovendo um entrelace discursivo capaz de envolver os mais centrados leitores de discursos tradicionais. Robert é o contraste do homem rústico, montado num jumento, ou à sombra dum cajueiro, a espera da dama de vermelho, com quem deseja se casar. É o gigolô das palavras, vestido em camisa de malha, desejando estar entre os mestres da literatura e colocando a terra em transe. Tudo isso fará você se apaixonar. Se você é uma mulher astuta e culturalmente antropofágica, junte-se a este peixe e deguste, devore os discursos pré-estabelecidos, traindo-os sem remorso.” O anúncio não deu noutra, choveu mulher na horta de Robert, e ele me deu uma trégua; eu ainda recebi muitos elogios pelo meu feito, inclusive de um querido mestre.
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