O corte de R$ 50 bilhões no orçamento da União, anunciado pelo Governo, sugere austeridade e preocupação com o controle inflacionário. É a concretização do que previam os analistas. Agora, que a medida já foi publicada, a população espera que o contingenciamento comece pelos gastos do governo com a sua própria manutenção e sustentação. E que, principalmente, sejam drasticamente eliminados os custos com a reforma de gabinetes, residências oficiais, viagens e outros luxos que os titulares dos cargos públicos não têm em suas vidas particulares. Eles não precisam passar privações, mas não devem ascender a padrões incompatíveis com o de suas vidas, principalmente porque as despesas são pagas com o dinheiro público. Tapioca, despesas em motéis, viagens com a cupinchada e outras extravagâncias ultimamente noticiadas, nem pensar. Cultuada como enérgica e a principal ministra do governo passado – e devia ser mesmo, pois resultou eleita – a presidente Dilma, pela relevância das funções que exerceu recentemente, conhece a problemática em profundidade e tem condições “cirúrgicas” de operar os cortes na justa medida. Conterá os excessos mas não deixará que a população passe por privações desnecessárias. Saberá administrar a dose certa do “remédio” para manter a economia nacional equilibrada e em desenvolvimento sem, jamais, carregar no amargo. A população acostumou-se ao otimismo do governo Lula. Tanto que, ao deixar o mandato, o ex-operário e ex-retirante flagelado pela seca, saiu com avaliação positiva nunca experimentada pelos doutores que o antecederam na chefia da Nação. Dilma foi eleita para sucedê-lo integralmente e deve saber que o compromisso legado das urnas é de continuidade. Logo, não tem clima para mudar de direção. Se quiser fazê-lo, terá de explicar muito bem à população e, mesmo assim, ainda correrá o risco de não ser entendida. As medidas de contenção anunciadas poderão trazer dificuldades no Congresso, pois o grosso dos cortes incidirá nas emendas que deputados e senadores apresentaram em favor de suas bases eleitorais. Há que se explicar, preliminarmente, que é melhor dizer logo de cara que não será possível liberar os recursos para as tais emendas do que agir como os últimos governos, que mantiveram as dotações, mas não entregaram o dinheiro, frustrando tanto os parlamentares aliados quanto os seus eleitores. O atual governo tem a obrigação de manter a inflação sob controle, criar um ambiente favorável ao desenvolvimento econômico e promover a distribuição de rendas para a população. E não pode se esquecer de sua condição de sucessor, cujos compromissos são os mesmos do governo que passou e foi o seu grande cabo eleitoral. Se Dilma e seus ministros conseguirem estabelecer a prometida continuidade, com as correções de curso exigidas para cada momento, conseguirão manter a felicidade geral da Nação. Do contrário, lamentavelmente, estariam comprovando o indigesto estelionato eleitoral, que setores mais críticos da oposição denunciaram durante a campanha... E o povo não seria feliz... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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