Os moradores de São Paulo enfrentaram, nos últimos dias, longas horas de falta de eletricidade. Decorrência da chuva forte. Mas o quê os irritou foi a falta de solução da companhia encarregada do abastecimento. Seu serviço de atendimento telefônico – praticamente o único meio disponível para falar com a empresa – ficou o tempo todo na secretária eletrônica que, em vez de orientação, fazia propaganda de um serviço que, pelo menos naquele momento, não funcionava. Procurada pela imprensa, a concessionária “culpou” os bombeiros, que teriam demorado para retirar as árvores caídas sobre os fios. É preciso fiscalizar, testar e exigir um pouco mais de responsabilidade dos prestadores de serviços essenciais. Eles cobram elevadas tarifas e acabam por atuar aquém das necessidades da população. A vida, da forma que hoje é estruturada, depende totalmente de eletricidade e de telefonia. E é justamente as fornecedoras desses serviços, privatizados anos atrás que, por falta de comprometimento, desapontam e infelicitam o consumidor. Em vez de respeitá-lo, pois é a razão de sua existência, as empresas o penalizam e, descaradamente, tentam repassar a terceiros a sua responsabilidade. Quando uma árvore cai sobre o fio, não há a necessidade da presença dos bombeiros. Esses profissionais, mantidos e treinados pela Polícia Militar para situações de emergência, só são necessários quando há vítimas ou um sinistro de porte. A simples queda de uma árvore pode ser resolvida facilmente com o transporte, oferecido pela prefeitura ou até por particulares. Atribuir o apagão à ação ou falta dos bombeiros é, no mínimo, uma inaceitável irresponsabilidade. Toda empresa que se apresenta para a prestação de um serviço, seja ele público ou particular, tem a obrigação de possuir equipamentos, pessoal técnico adequado e logística para a sua realização. Mas, infelizmente, o que se tem visto no Brasil é a cobrança de elevadas tarifas e a má prestação de serviços. A isso se acrescenta a falta de fiscalização dos órgãos controladores que, por anos a fio, não conseguem fazer com que as concessionárias atuem com competência. O governo brasileiro, as agências reguladoras e a população têm de se manter atentos ao serviço que as concessionárias prestam nos serviços privatizados ou terceirizados. Via de regra, são atividade de alta sensibilidade social, cuja má execução causa prejuízos à sociedade. Ninguém neste país pode ou deve passar horas sem eletricidade, com o telefone mudo ou privado de qualquer outro serviço básico. Se isto acontecer, as reguladoras têm o dever de apurar e punir as más prestadoras dos serviços e, com isso, justificar a sua existência. Quem privatizou os serviços também tem de ajudar a fiscalizar e, sempre que possível, apurar e punir aqueles que não cumprem as suas cláusulas contratuais. Só assim é que o Brasil poderá continuar se desenvolvendo... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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