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SEÇÃO
Crônicas
08/03/2011 - 14h00
Fé no cacete
José Ronaldo dos Santos
 

Não tem como escapar de uma verdade: a cultura caiçara se fundiu num cimento religioso. Melhor dizendo: foi graças ao discurso religioso que os indígenas, após o massacre de Yperoig (que é celebrado como paz no dia 14 de setembro de cada ano), foram “domesticados”. O mesmo ocorreu com os negros: ou aceitavam os dogmas dos portugueses ou sofriam demais por não poderem expressar a sua originalidade religiosa trazida da mãe-África. Da parte dos brancos pobres lusitanos vem a “moral de rebanho” (de aceitação dos sofrimentos nesta vida para uma recompensa no céu). Regendo toda a masseira, emprestando o termo da construção civil, estava o rico grileiro português em parceria com a religião oficial. Patrões e padres representam para a massa, na nova terra, a elite, os fundadores de uma nova cristandade; estavam acima da ralé ao ponto de disporem das pobres vidas como quisessem. Depois de misturar bem tudo isso estava pronta a cultura que passou a vingar entre a serra e o mar. Das demais culturas ficaram vestígios, semelhantes aos filetes de água que escorrem pelas pedras das costeiras, mas que logo desaparecem na lambida das ondas. Porém, de vez em quando elas despontam como um galho de corticeira no mar revolto.

Eu fiz essa introdução para explicar como, na maior verdade do nosso ser  - o nosso instinto - está a fé em outros recursos que nada devem ao transcendental. Vou explicar melhor através de um fato na minha vida.

Quando meu avô Estevan faleceu, passei a morar com a vovó Martinha. Passava na casa dela algumas vezes por dia e nas noites estava lá para conversar um pouco mais e dormir. Sempre nos demos muito bem. Devo muito a ela das coisas que sei sobre a nossa cultura caiçara. Com ela vivi fatos extraordinários e muitos outros engraçados. Um destes foi numa noite quando, cheguei para dormir por volta das vinte e três horas, ela me recebeu dizendo que escutara um rumor em volta da casa. Até tinha pensado que fosse eu fazendo alguma brincadeira para assustá-la. Eu disse que não. Depois, já tomando um café antes de ir para a cama, perguntei:

- Vovó, a senhora não tem medo de ficar sozinha aqui?

Ela prontamente respondeu:

- É claro que não, menino! Com a fé em Deus e aquele cacete de guatambu atrás da porta eu não tenho medo de nada!

E rimos juntos. A lógica era essa: se Deus falhasse ela tinha o cacete como derradeiro recurso. Neste não havia dúvida. Era fé demais para a minha cabeça!

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