25/08/2025  18h44
· Guia 2025     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Crônicas
18/03/2011 - 09h03
Pedalando
Vany Grizante
 

Depois de muitos dias de chuva, a estiagem e o brando calor do domingo convidam para um passeio no parque. E o convite, que parte da adolescente, inclui andar de bicicleta: alugá-la por uma hora e passear sobe duas rodas. No caso dela, três – pois, apesar dos seus dezesseis anos, ela não sabe andar de bicicleta.

Mas ainda há outro detalhe: ela não sabe nem mesmo pedalar. Desde pequena, por conta de seu atraso global de desenvolvimento – nome genérico para algo absolutamente desconhecido e sem prognóstico - faz treinos casuais para que consiga coordenar o movimento e a força dos pés para frente; mas, nas poucas vezes em que promove um pequeno impulso, não consegue controlar o triciclo. Ou uma coisa, ou outra.

Então, os passeios sempre foram assim: ela no triciclo, a mãe a pé ao lado, incentivando com voz firme e séria a filha a manter a cadência e o impulso dos pés para a frente e/ou girando o guidão para evitar trombadas ou quedas. Nenhum desses passeios durava uma hora completa, já que, pouco tempo depois, ambas estavam exaustas, física e psicologicamente.

Mas mais uma vez vão, principalmente levando-se em conta que o convite, excepcionalmente, parte da jovem e não da mãe (que, internamente, sabe que a filha sempre fora aos desgastantes treinos travestidos de lazer para agradar-lhe, jamais por prazer). Lá chegando, alugam o triciclo e uma bicicleta. Desta vez, pensa a mãe, vai tentar acompanhá-la sobre rodas. E desta vez a filha aceita sem nenhuma restrição.

E ainda desta vez a garota, como se sempre houvesse feito isso na vida, sai pedalando e controlando o triciclo ao mesmo tempo. A mãe, espantada e encantada, conduz sua bicicleta olhando para trás quase sem acreditar. E a filha, igualmente encantada (e de certa forma também espantada), sorri um dos mais belos sorrisos que a mãe já vira: sorriso de triunfo e alegria verdadeira, castanhos cabelos brilhantes ao vento, rosto corado de sol e agitação. Uma parada no meio do caminho para um telefonema - o pai precisava saber do progresso - e a filha docemente consola a mãe, dizendo-lhe que não precisa chorar...

(A mocinha ainda não sabe que chorar de felicidade é muito bom.)

Engraçada, a adolescência. Os jovens se rebelam e fazem de tudo para serem diferentes. Esta adolescente é diferente: ela apenas quer ser igual. Igual aos jovens de sua idade que andam de bicicleta, vão a festas, namoram, saem sozinhos. E, pelo pedalar do triciclo, tudo isso poderá ser possível, quem sabe muito em breve.

Afinal, a vida é, acima de tudo, surpreendente.


Nota do Editor: Vany Grizante (vanygriz@gmail.com) é arquiteta e escritora em São Paulo, SP. Escreve no site "Recanto das Letras" desde 2007. Publicou o livro "Abelhas sem Teto e outras crônicas" pela Editora All Print e participou da coletânea "Universo paulistano vol. II" da Editora Andross, ambos em 2010. Sua tese de mestrado sobre ambiente de trabalho na indústria encontra-se disponível para download no site: www.teses.usp.br.
PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "CRÔNICAS"Índice das publicações sobre "CRÔNICAS"
31/12/2022 - 07h23 Enfim, `Arteado´!
30/12/2022 - 05h37 É pracabá
29/12/2022 - 06h33 Onde nascem os meus monstros
28/12/2022 - 06h39 Um Natal adulto
27/12/2022 - 07h36 Holy Night
26/12/2022 - 07h44 A vitória da Argentina
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2025, UbaWeb. Direitos Reservados.