Gagueira infantil não deve ser motivo de chacota ou pressão por parte dos pais, mas de atenção para a dificuldade real da criança ao falar
Ganhador de quatro estatuetas do Oscar, o filme O Discurso do Rei retrata o sofrimento comum a muitas pessoas, principalmente para as crianças: a gagueira. O distúrbio, muitas vezes, ocorre de forma episódica, devido a razões emocionais, e aparece em situações com nível significativo de estresse. Contudo, se essas situações de fala interrupta vêm acompanhadas de lutas e sofrimento psíquico é o caso de se procurar especialista, conforme afirma a psicanalista Ana Maria Rocha, do CPPL (www.cppl.com.br), no Recife (PE). “A gagueira é um distúrbio da fala quase sempre de ordem emocional ou psicogênica, a não ser em disfunções neurológicas. Por isso, o tratamento não pode ser apenas funcional (por meio da fonoaudiologia), pois a raiz do problema precisa ser abordada através de uma psicoterapia”, explica a profissional. O fato pode ser observado no já citado filme, no qual o fonoaudiólogo que acompanhava o rei Jorge VI, personagem interpretado pelo ator Colin Firth, também acreditava nessa perspectiva. “Ele fez muito mais o papel psicológico do que as técnicas e ajudas funcionais”, afirma Ana Maria Rocha. Um alerta importante, segundo a psicóloga, diz respeito à gagueira no período de desenvolvimento das crianças. “É muito comum que apareça um período ‘normal’ de gagueira, chamada ‘gagueira fisiológica’, entre mais ou menos três e seis anos de idade. Ela é superada naturalmente, sem necessidade de nenhum tipo de intervenção”, diz a profissional. Nesta situação, a compreensão no ambiente familiar é primordial: “Basta que a família trate com naturalidade, sem maiores incômodos ou pressões”. É importante, porém, observar se a gagueira aparece junto com sinais de sofrimento psíquico, pois nesse caso é bom a família conversar com um psicoterapeuta. O tratamento fonoaudiológico consiste em diagnosticar o paciente, definir os momentos de gagueira como bloqueios (as palavras não saem), repetição (pa-pa-pa-papagaio) e prolongamento (e... e... e... então), e segue no sentido de buscar a fluência verbal através de orientações e exercícios respiratórios e de relaxamento. Na maioria das vezes, este tratamento só consegue uma evolução satisfatória se estiver associado a um acompanhamento psicoterápico.
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