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Opinião
06/04/2011 - 07h02
Espírito de porco, carne de pescoço
Marli Gonçalves
 

A vontade é dar descarga, apertar o botãozinho, ejetar, tapar. Difícil é ter paciência e aguentar tantas tolices ditas, tantas palavras disparadas junto com tiros e maledicências, tanta negatividade vinda dessa gente do mal, desses atrasos, dessas tranqueiras. A energia que emitem é uma poluição etérea, inferior, grudenta, que tenta atingir nossas almas

Desde que o mundo é mundo sempre tem ou aparece o cara espírito de porco, o toco, tosco, osso duro de roer. Ou a muiézinha bem zinha, atrasada, palpiteira no alheio, fofoqueira, moralista. O problema é que ultimamente todos eles têm posto as manguinhas de fora ao mesmo tempo. A gente não consegue mais nem tempo de respirar. Parece campeonato de asneiras. Mal acaba o asco, o enjoo de ouvir um, ficamos sabendo que apareceu outro verme. E eles se superam entre eles na vala da ignorância onde procriam, inclusive filhos.

Semana passada foi o auge. Como diria Gilberto Gil, chiclete eu misturo com banana e o meu samba vai ficar assim. Promiscuidade ocorreu foi entre o racismo e a homofobia de quinta categoria que grassaram violentamente nos discursos de dois parlamentares, o pastor Feliciano e o estúpido Bolsonaro. Pior, eles ainda estão lá lindos e louros no Congresso Nacional e já se passaram muito mais de 150 horas do ocorrido. Um escárnio. Como somos lentos... Tic-tac, tique, taque, tique, taque. Tic. Eles não deviam estar - como dizem alguns sábios das religiões africanas - onde não canta o galo e onde não há de cantar galinha?

Houve quem os defendesse com base na livre expressão, ou talvez por acaso pensar igual. OK. Ai-ai-ai ainda ter que explicar a diferença! Eles e todos podem pensar o que quiserem, claro. Desde que o façam sem ofender seus contrários com as sandices e bobagens que certamente nem eles mesmo acreditam de verdade, palhaços públicos eleitos, em busca de holofotes. Desde que fossem considerados, antes, como gente. Cidadã. Cidadão. 100%. Eles não são tão puristas?

Sabemos ouvir posições distintas. Mas racismo é racismo. Homofobia é homofobia. Isso não pode mudar sob o risco de perdermos completamente o pouco que nos resta do chão. Perigo é aí aparecer um salvador do mundo Zé Mané qualquer para guiar a turba ignara. Para tocar a flauta e ser seguido.

Andamos também cansados da falta de ação. Dessa coisa dispersa que virou a sociedade - cada um por si e, olha lá, Deus por todos, quem sabe? As coisas acontecem hoje, amanhã e vão piorando, depois, como rotina num constante torpor. Crianças massacradas? Mulheres espancadas? Jovens violentados? Preços que disparam? Imprudências que matam? Seguimos como bovinos ruminantes.

O descaso do funcionalismo público mata. E rouba inclusive o nosso rico tempinho, o de quem busca os parcos direitos conquistados. Os chefes são chefiados e, por sua vez, por outros chefes, abaixo dos chefes, os indicados. Ou concursados, que agora isso também virou desculpa esfarrapada para se eximir. E nada funciona bem nessa interdependência. Burocracia gera mais burocracia e custos. Há uma máquina disforme e monstruosa se alimentando de nossas vísceras e recursos, engordando, mas o leite de suas tetas gordas alimenta só poucos bezerros. Os buracos nas estradas, os empilhamentos nos hospitais, trapos de educação, falta isso, falta aquilo - essa parafernália toda comprova. E os focos de rebeldia gritam, mesmo que lá de longe, iluminados pelo fogo do que os rebeldes incendeiam.

Para nós que vivemos nas grandes cidades a situação também logo ficará insustentável. Da elite ao popular. Do físico ao jurídico. E no corpo a corpo. Mais próximos do suor uns dos outros, espremidos, no coletivo; ou paralisados, no particular. Quem está dentro quer sair; quem está fora, quer entrar. Um medo silencioso sempre, se o céu está escuro, se a rua está escura. E não há organização possível que limite essa rapidez com que as coisas vêm, aos borbotões, empurrando até serem aceitas, ou esquecidas porque eram só modinhas. São os novos comportamentos e, entre eles, esse egoísmo que está aí, latente.

Poucos olhos nos olhos.

Poucas gentilezas.

É uma sensação, uma coisa, um negócio que já dá para sentir em espaços mínimos, íntimos, como num elevador, ou abertos, como os campos. Os mais sensíveis já percebem no ar essa poluição diferente; diferente, porque imaterial, etérea. Mas pesada, em sua transparência; infernal, como e quando se impregna em nossos corpos, querendo tomar a nossa alma. Fique alerta. Use antídotos. Não deixe que se criem, nem que se espalhem.

São Paulo, sempre em campanha, por todos nós, 2011.


Nota da Autora: Marli Gonçalves é jornalista. Dedico esse texto ao meu vizinho Lourenço que há poucos dias, durante uma reunião de condomínio, inscreveu este tema – o da energia do ar do prédio no qual moramos – no ítem “Discussão de Interesses gerais”. Com toda a razão, clamou pelo que chamou de mais amor, de forma a iluminar e energizar com o bem o lugar onde moramos. Legal, não?

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