A alta desenfreada do preço do álcool (ou etanol), motivada pela entressafra somada, principalmente, à opção dos usineiros em produzir açúcar (que hoje tem bons preços internacionais) e não o combustível para movimentar a frota, leva a economia nacional para uma verdadeira encruzilhada. A alta do álcool levou os donos de carros a optar pela gasolina, que passou a faltar no mercado e, pela escassez, também sobe de preço. Tradicionalmente é sabido que o preço dos combustíveis é uma das mais importantes alavancas indutoras da inflação. Se o governo não acionar mecanismos que possam estancar assa alta, corre o risco de, muito brevemente, também perder o controle da inflação, que já apresenta níveis preocupantes. A política do Real, adotada em 1994, foi a grande responsável por domar a escalada inflacionária e dar ao Brasil reais condições de desenvolvimento. Da mesma forma, tem servido para sustentar campanhas e o proselitismo de políticos que tiveram a ver com a empreitada. Vez ou outra, encontramos até quem não teve relação com o assunto intitulando-se pai ou parente próximo do Real. Criança perfeitinha e bonita acha paternidade fácil, ainda de ilegítima. O preocupante neste momento é que a prioridade ao lucro está ameaçando o Brasil. A debandada dos produtores para o açúcar, que em outras épocas deu prejuízo à classe, está penalizando todos os brasileiros que sonharam e confiaram no sucesso do carro a álcool. Além dessa frustração interna, ainda desmente a imagem externa do Brasil em relação à adoção do combustível eficiente e ecologicamente correto. De nada adianta ter o álcool e o veículo que o consome com eficiência se não tivermos a competência de oferecer o produto ao consumidor a um preço pelo menos compatível ao da tradicional gasolina. É disso que o governo, por seus órgãos, tem de cuidar. Os produtores não podem ficar soltos ao ponto de, por meros e momentâneos interesses econômicos, destruírem a matriz energética do país. A frota foi dimensionada para consumir o álcool que as centenas de usinas e destilarias instaladas no país têm capacidade de produzir. E, conforme os ensaios de laboratório, por ocupar galonagem maior do que a de gasolina para rodar a mesma quilometragem, seu preço não pode ser superior a 70% do cobrado pelo derivado do petróleo. Nos deparamos mais uma vez com a necessidade do Estado impor seu poder regulador. No passado haviam muitos contrários à criação da Petrobras e à exploração do petróleo em território nacional. Vencidas as resistências, o Brasil conseguiu montar umas das maiores empresas petrolíferas do mundo, verdadeiro orgulho nacional. Com o álcool ocorre o mesmo. Arautos dos produtores defendem a livre iniciativa no setor, mesmo que isso custe a derrocada do biocombustível nacional e até a volta da inflação. É preciso regular o setor, mesmo que haja a necessidade de criar a “etanolbras”, temida pelos cultores do lucro fácil, mas necessária aos interesses de toda a população brasileira. Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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