Sempre ouvi que quem não tem nada a dizer que permaneça calado. Certo? Errado! Na literatura esse chavão se desenvolve visto que não ter algo para dizer é também um excelente assunto. Quem não tem nada para dizer está morto ou esperando a morte, mas já não seriam esses bons motivos para dizer algo? Ora, quem vive sempre se interage, tece comentários, observações, intervenções. Viver consiste em dialogar com os inúmeros enunciados, ações, situações. Por isso, não ter nada, nadinha para dizer se torna duvidoso. Se não tem nada a dizer tem aí uma excelente temática: por que em meio a tantas diversidades e adversidades se está calado? Nada se tem a refletir? Um atirador mata, no Rio de Janeiro, treze crianças e não se tem nada a dizer? A pedofilia parece cada dia mais “normal”, por que ninguém fala nisso? O tráfico de drogas e armas é a “empresa” que mais cresce, ao mesmo tempo, que dizima e destrói milhares de famílias, e realmente não se tem nada a dizer? A violência está em toda parte, rua, escola, supermercado, posto de gasolina. Nada se tem a ver com isso? A instituição familiar deveria ser o alicerce social está em descrédito, às vezes parece ridícula. Está fora de moda! Veja como é surreal imaginar um adolescente fazendo planos de constituir família. E mesmo assim, não se tem assunto? Alguém poderá dizer que falta é talento para a arte escrita. Encontra-se aí um desvio do foco. Falta talento ou condições mínimas de domínio do pensamento escrito? As duas coisas. Esdrúxulo, mas realmente não ter nada para dizer é um assunto amplo demais porque denuncia nossas negligências, insensatez. Mas se ninguém ouve, não é melhor mesmo permanecer calado? Não! Qual é mesmo o assunto?
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