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29/04/2011 - 10h10
Foi quando sobrou até para as bananeiras
José Ronaldo dos Santos
 

Hoje, após ler o texto-denúncia do amigo Júlio, resolvi dar a conhecer a outras pessoas um pouco mais da referida região, entre as praias das Toninhas e Enseada. Essa é uma motivação. A outra, também da raiz caiçara, chegou através de um telefonema da Fátima, a nossa, do “Arrelá”. Foi assim: depois de ter publicado um causo sobre a as irmãs da praia da Maria Godói, a nossa escritora me recomendou a aproveitar, já que estava na região (Esporão do Tapiá), para contar aos leitores o causo da Praia do Amor. Aproveito o momento para dizer que a avó da Fátima - Dona Josefa - era nascida na praia da Maria Godói. A terceira motivação vem de mais longe: da praia da Trindade, no município vizinho de Paraty. Foi lá que, em meados da década de 1970, vinte e tantas famílias de caiçaras conseguiram barrar o doutor Ernesto Cardoso e o consórcio Brascan/Adela, contando com o apoio de jovens turistas (barraqueiros) que perceberam que não seriam só os trindadeiros que perderiam. O desafio é ir além das ações do finado BIP, defender os caminhos de servidão que têm um potencial de turismo cultural e criar as áreas de reserva caiçara. É o que pode garantir a qualidade ambiental, a sustentabilidade e outras coisas mais.

Eis o causo:

Logo após a praia da Maria Godói fica a praia da Xandra, também conhecida como praia do Amor, que é uma denominação antiga, perdida no tempo. Vários caiçaras do entorno me contaram o causo, mas a versão que prefiro multiplicar é a que escutei do velho Sabá, da praia da Enseada.

Sabá adorava uma prosa; sabia contar e adorava escutar. Deste modo ele abordou a história da Xandra:

“Pois bem, Zezinho: a praia da Xandra você conhece; nós conhecemos. Mas a Xandra nem eu conheci. Nem mesmo o meu pai a conheceu porque ela se perde no tempo da meninice do meu avô, irmão mais velho da tia Dorcelina; gente das Toninhas, de quando ainda se vivia em escravidão. Os meus antigos moravam depois do lugar onde morou o Miguel, o Joaquim Firme e todo o seu pessoal, no Saco do Saquaritá, quase chegando na Godoi. Dizia ele - o meu pai - que Xandra era uma escrava, trazida na mesma leva de tantos antigos meus, mas foi liberta porque diziam ter sido uma princesa num lugar da África conhecido como Congo. Era bonita demais; logo um caiçara a levou como companheira para viver no lugar que hoje chamamos de Xandra. Sua casa servia, ao mesmo tempo, de rancho da canoa usado no dia-a-dia. Teve mais gente que cobiçou a formosa negra. Investiram... investiram...investiram... e conseguiram! Diziam que o seu fogo era tanto devido à sustância dos frutos-do-mar e de alguns amuletos que trazia da sua raiz africana. Assim, sempre queria mais do seu pescador, além de satisfazer aqueles que a procuravam escondidamente. Até falavam que o tal pescador chegou a um tempo que não aguentava mais; o fogo da negra era muito exigente para quem já vivia alquebrado da faina no mar e também cuidava da roça. Tinha que inventar coisas para não morrer disso, chegando ao ponto de se perder no mar numa ocasião. Enquanto isso, a Xandra, na mesma intensidade, continuou dando prazer a todos que a farejavam. Até pouco tempo, distante desse tempo de amor intenso, quem passasse por lá sentia o cheiro da negra no ar, como tentação da carne. Os mais afoitos cavavam buracos nas bananeiras para se aliviarem. Quanta energia!”

“Também aos de pouca energia, isso há menos de vinte anos, eram instigados pelas companheiras para irem lá inalar aquele ar a fim de ganharem mais forças. Tenho até a impressão que continua fazendo efeito o tal cheiro de amor porque, quando eu tinha uma barraca no Caminho do Paru, até a temporada passada, presenciei muitos homens (idoso ou mais moço) buscando a praia do Amor. Tem gente que diz ser feitiçaria da negra, da tal Xandra do Congo. Acho que é mesmo!”

“Agora que pouca gente sabe disso, você, se estiver precisando, pode comprovar o causo. Só não estrague mais as coitadas das bananeiras”.

E o saudoso Sabá sempre terminava suas prosas em gostosa gargalhada, capaz de contagiar até mesmo quem não entendia direito do que se tratava.

José Ronaldo dos Santos
ronaldo.jrszero@gmail.com

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