25/08/2025  05h00
· Guia 2025     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Opinião
03/05/2011 - 13h00
A roda dos excluídos
Dirceu Cardoso Gonçalves
 

A onda de mães que, no último mês, descartou seus filhos recém-nascidos é o demonstrativo de uma tragédia social. Ao lado dessas quatro ou cinco crianças que tiveram a sorte de ser localizadas em tempo e salvas, podem existir muitas outras que pereceram e dificilmente entrarão para o noticiário ou para a estatística. Precisamos trabalhar com todo rigor e pressa para evitar a continuação desses crimes contra a infância e o futuro do país.

Por mais justificativas que apresente, a mãe jamais conseguirá convencer alguém de que agiu certo ao abandonar o próprio filho na lixeira, na rua, no quintal do vizinho ou no banheiro do hospital. Isso é crime dos mais perversos, praticado por quem, até por razões biológicas, deveria ser o maior protetor daquele novo ser. Principalmente quando é sabido que mães impossibilitadas de criar seus filhos têm a alternativa legal de entregá-los, em segurança, para a adoção.

O abandono de recém-nascidos é tema antigo. Nas sociedades conservadoras do passado, as mães solteiras não tinham o que fazer com os filhos e os deixavam nos portões de casas cujas famílias pudessem criá-los, mas muitos pereciam pelo frio, ataque de insetos ou de cães. Na Idade Média, foi criado, em Marselha, o sistema da “roda dos excluídos”, que se alastrou por toda a Europa, inclusive Portugal e chegou ao Brasil em 1738. A ‘roda” funcionou em vários endereços do Rio de Janeiro, até 1948 e teve versões parecidas em São Paulo, outras capitais e cidades do interior brasileiro. A mãe do indesejado chegava, o colocava numa abertura do prédio - normalmente uma roda horizontal que, movimentada, o levava para dentro -, tocava uma sineta e ia embora, livrando-se do problema.

A roda dos excluídos - a antiga e a atual, representada pelos conselhos tutelares e juizados - é apenas um paliativo pois, mesmo depois de salva do abandono, a criança continua enfrentando problemas nas filas de adoção. O ideal seria resolver a questão na origem, através da educação e da prática da paternidade (e maternidade) responsáveis. Primeiro, a criança, que será o futuro adulto, deve receber, assim que possível, as informações sobre reprodução, sociedade e responsabilidades. Jamais devem lhes ser sonegadas orientações sobre controle da natalidade, contracepção e outros temas ainda tabu na nossa sociedade. Conhecendo e tendo acesso, o jovem ou o adulto terá melhores condições de evitar a gravidez indesejada. E, em paralelo, há que se cobrar os rigores da lei daqueles que, mesmo sabendo, ainda geram filhos.

A história mostra que, por razões sociais e econômicas, o descarte de recém-nascidos ocorre há séculos. A solução é difícil, mas não podemos nos conformar só com o paliativo do encaminhamento da criança. Temos evitar, de todas as formas, os nascimentos indesejáveis. Isso seria o mais eficiente instrumento para acabar ou, pelo menos, reduzir o hediondo descarte.


Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).

PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "OPINIÃO"Índice das publicações sobre "OPINIÃO"
31/12/2022 - 07h25 Pacificação nacional, o objetivo maior
30/12/2022 - 05h39 A destruição das nações
29/12/2022 - 06h35 A salvação pela mão grande do Estado?
28/12/2022 - 06h41 A guinada na privatização do Porto de Santos
27/12/2022 - 07h38 Tecnologia e o sequestro do livre arbítrio humano
26/12/2022 - 07h46 Tudo passa, mas a Nação continua, sempre...
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2025, UbaWeb. Direitos Reservados.