25/08/2025  04h47
· Guia 2025     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Opinião
10/05/2011 - 17h12
Terras raras, um negócio da China?
Fernando J. G. Landgraf
 

“Se os árabes têm petróleo, a China tem terras raras”. Lendas urbanas creditam essa frase a Deng Xiao Ping, líder político chinês entre 1978 e 1992. Fato é que hoje a China domina o mercado mundial dessas “terras raras”, como é chamado o conjunto de 17 elementos químicos, utilizados para aplicação em alta tecnologia, como a dos ímãs que transformam energia elétrica em energia mecânica e em produtos high tech como notebooks, telefones celulares, trens-bala, iPods, fibras óticas e painéis solares.

O mercado dos 17 elementos químicos individualizados é da ordem de US$ 5 bilhões anuais e, mais que isso, é estratégico. O significado da palavra estratégico ficou muito claro em 2010, quando a China anunciou que imporia cotas de exportação destas terras raras, jogando os preços para o céu, e, de forma mais chocante, ameaçou não mais entregá-las para o Japão, depois de uma escaramuça de fronteira marítima.

Tratou-se de um claro perigo à supremacia japonesa em produção de carros híbridos, cuja tração elétrica baseia-se nos superímãs de terras raras, e objetos de alta tecnologia. O disparo dos preços foi extremo. Por exemplo, em 30 de março deste ano o preço do neodímio metálico, um dos 17 elementos terra rara, foi cotado na Ásia em U$ 200 o quilo, enquanto em janeiro de 2009 estava em R$ 15 o quilo.

O domínio chinês, nesse caso, não se refere somente ao baixo custo da mão-de-obra. A China detém mais de 50% das reservas mundiais de terras raras. Ou melhor, detinha. Em novembro de 2010 a US Geological Survey, a agência científica dos Estados Unidos, publicou um artigo que indica que a maior reserva de terras raras é, muita atenção, brasileira, para a surpresa geral e de todo o mundo. Afinal, o que grande parte dos pesquisadores brasileiros sabia era que nossa areia monazítica (tipo de areia que possui uma concentração natural de minerais pesados) havia acabado. Grande parte dos pesquisadores, mas não sua totalidade, pois a fonte da informação da US Geological Survey foi um breve resumo de um brasileiro, nos anais de um Congresso Internacional de Geologia de 1996.

Especialistas já avaliaram locais em que ocorrem terras raras no Brasil. Estão na cidade mineira de Araxá, na goiana Catalão, no Paraná, na Bahia... e a lista deve crescer. Usando terminologia técnica, é possível afirmar que “recursos minerais” o Brasil tem, sem dúvida. Mas a questão é saber se são “reservas minerais”. Explico: é preciso verificar se a concentração de terras raras é economicamente viável, se a operação de separar o mineral que contém as terras raras dos minerais restantes é válida economicamente.

O mundo todo se anima e revê as possibilidades. Americanos anunciam investimentos de 100 milhões de dólares para reativar sua maior mina. Australianos falam de números maiores ainda. Sobra chance para o Brasil?

Normalizados os preços, é possível viabilizar no País empreendimentos de mineração que produzam concentrados de terras raras. Separar as terras raras em cada um dos elementos agrega bastante valor, mas exige tecnologia química especial, resinas importadas... enfim, custa caro. A estratégia chinesa foi ocupar frações cada vez maiores da cadeia produtiva. Hoje a China não quer mais exportar superimãs, quer exportar motores elétricos que os usam. Aqui se configura uma oportunidade particular e de extrema relevância para o Brasil. Desenvolver as tecnologias da cadeia produtiva das terras raras coloca grandes desafios para a tecnologia nacional. E isso é ótimo. Dentre algumas iniciativas nessa direção já se destaca uma articulação entre a Fundação Certi, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e o Centro de Tecnologia Mineral.

É preciso levar em conta que há cerca de 30 o Brasil investiu nessa cadeia, mas os baixos preços chineses inviabilizaram todas as iniciativas. É possível retomar o projeto, mas é necessário um plano de mais longo prazo, resistente às intempéries do mercado e das estratégias de outras nações. É hora de agir, de maneira consistente.


Nota do Editor: Fernando J. G. Landgraf é diretor de Inovação do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e professor Associado da Escola Politécnica da USP.

PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "OPINIÃO"Índice das publicações sobre "OPINIÃO"
31/12/2022 - 07h25 Pacificação nacional, o objetivo maior
30/12/2022 - 05h39 A destruição das nações
29/12/2022 - 06h35 A salvação pela mão grande do Estado?
28/12/2022 - 06h41 A guinada na privatização do Porto de Santos
27/12/2022 - 07h38 Tecnologia e o sequestro do livre arbítrio humano
26/12/2022 - 07h46 Tudo passa, mas a Nação continua, sempre...
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2025, UbaWeb. Direitos Reservados.