Não sei mais em que pé anda o debate sobre a internet pública, mas aí está um tema de extremo interesse do povo brasileiro. Quando mudei de casa descobri que não havia internet banda larga no novo bairro. Liguei para a operadora e disseram que naquela rua era impossível. Fiquei desesperado, afinal, sem internet hoje meu modo de trabalho é praticamente impossível. Fui obrigado a comprar um serviço 3G. Apesar da garantia da empresa, a internet caia a todo o momento. Fui obrigado a devolver o serviço e ainda pagar uma multa. Já estava entregando os pontos quando, por problema na linha telefônica fixa, um técnico autônomo andou em casa e garantiu: - Aqui tem serviço de internet banda larga por cabo, sim. Deixa-me telefonar. Dois minutos depois, pasmo, o serviço de internet estava ligado, sem que eu soubesse para quem ele havia telefonado. Mas, ao final do mês, lá veio a conta oficial. Comentei o assunto com um colega experto em computadores. Ele retrucou: - Você quer internet de seis mega? - Como? – perguntei mais pasmo ainda – se aqui mal chega a de trezentos Kb? - Pois existe, caso você queira piratear. Tem um técnico que você paga 300 reais e ele te põe seis mega na hora. Todo ano você tem que pagar para ele 300 reais para renovar. Eu já estava pra lá de Bagdá, mas quis entender: - Se existe a possibilidade técnica, por que a empresa não libera o serviço? Ele retrucou: - Quanto você paga por mês? - Quase 80 reais por 300 Kb. - Pois é, porque eles vão te pôr seis mega por 50 reais, como na capital? - Como é que é? – mais pasmo ainda! - Exatamente. Consulte o site, eles te vendem uma porcaria de serviço mais barato, ganham mais, porque vão baratear o serviço, prestando um serviço melhor? O que era absurdo foi ficando lógico, embora logicamente absurdo. Enquanto remoía minha impotência, ele continuou: - Vai querer a internet pirateada? O problema moral é da empresa, rapaz, não teu. Até agora resisti à internet pirateada, mas a tentação é grande. Ainda estou esperando que o governo bote ordem nesse galinheiro da web lascada. Nota do Editor: Roberto Malvezzi (Gogó), articulista do EcoDebate, é membro da Equipe Terra, Água e Meio Ambiente do CELAM (Conselho Episcopal Latino-Americano).
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