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SEÇÃO
Crônicas
14/05/2011 - 15h00
O homem que fazia leitores
Galeno Amorim
 

Evando nasceu numa região muito pobre. Cresceu naquele sertão desprovido de recursos e de qualquer perspectiva de uma vida melhor. Mas, como o sertanejo é, sobretudo, um forte, ele foi adiante. Por fim, sobreviveu, assim como um punhado de outras crianças do lugar. Seja porque tiveram semelhante sorte, seja por pura teimosia, mesmo.

Até que um dia ele tomou a condução rumo ao Sul. Deixou para trás as pegadas de uma história conhecida, que mistura dramas, suor e muita bravura. Apeou no Rio de Janeiro, com a ideia de que lá, enfim, as coisas podiam ser melhores.

Mas que nada... Um dia, finalmente, sua ficha caiu: enquanto não aprendesse a ler e a escrever, dificilmente as portas daquele admirável mundo novo se abririam pra gente como ele. E lá foi Evando, com seu jeitão de moço crescido, para a escola.

Era custoso, isso era... Mas, ele resolveu seguir em frente.

Lá ouviu que, na vida, importante mesmo era ler. De tudo. No início, não deu muita bola e nem mesmo entendeu direito o que aquilo queria dizer. Pelo sim, pelo não, decidiu que acreditaria...

Então, a vida colocou no meio do caminho dele uma surpresa. Um monte de livros. Já estavam surrados, e haviam sido jogados fora, no meio da rua. Evando parou, olhou. Por fim, resolveu resgatá-los dali. Afinal, não haviam dito que os livros ainda mudariam a sua vida?!

Um deles era um clássico de Tobias Barreto, sergipano como ele. Gostou! E foi atrás de outros livros. Quando se deu conta, tinha sido simplesmente abduzido. E nunca mais conseguiria se livrar deles.

Como num passe de mágica, a vida de Evando já não era a mesma. Os anos haviam passado e o rapaz que só aprendera ler aos 16 anos agora falava umas palavras difíceis, que chegavam a causar certo impacto em quem ouvia.

Definitivamente, as coisas haviam mudado. E pra melhor!

Primeiro, o rapaz arrumou uma namorada. Depois, casou; e, junto, vieram os filhos. E não foi só. Na leitura, que antes não compreendia direito, encontrara seu Deus, que tanto buscava. Deixou de fazer bicos e virou servente de pedreiro. A grana melhorou. Passou a ter seu próprio ofício, já que um freguês avisava o outro: que havia, no subúrbio, um pedreiro bom de pá que só vendo, que sabia muitas coisas e, ainda por cima, fazia serviço direito e de primeira.

Não importava como olhasse, e via que sua vida tinha mesmo mudado. E ele sabia: tudo isso era graças aos livros!

Hoje em dia, Evando dos Santos tem uma biblioteca no fundo do quintal, projetada por Oscar Niemeyer. Lá, ele empresta livros para os vizinhos, a qualquer hora do dia ou da noite.

E não sai mais de casa sem dois ou três deles debaixo do braço. Oferece na rua, no ponto de ônibus, aonde vai: basta que o incauto se disponha, por alguns minutos, a ouvir sua ladainha sobre certas maravilhas que os livros podem fazer na vida das pessoas.

E olha que tem gente que ainda cai...


Nota do Editor: Galeno Amorim (www.blogdogaleno.com.br) é jornalista, escritor e presidente da Fundação Biblioteca Nacional. Criou o Plano Nacional do Livro e Leitura, no Governo Lula, e é considerado um dos maiores especialistas do tema Livro e Leitura na América Latina.

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