Diversos estudos mundiais realizados até o momento identificam alguns fatores que contribuem, e muito, para o surgimento do câncer. A genética é apontada como um deles, mas como causa do aparecimento da doença em apenas 20% dos casos. Segundo informações do Instituto Nacional do Câncer (Inca), fatores como o meio e o estilo de vida; o nível de stress – que acaba comprometendo a resistência imunológica -; a exposição a agentes externos como tabaco, cigarro e álcool; o consumo de alimentos industrializados com conservantes; e a ingestão abusiva de açúcar e de gordura contribuem em cerca de 80% dos casos de aparecimento de câncer. Uma alteração genética herdada ou ativada por qualquer um destes fatores conhecidos e/ou ainda desconhecidos pode levar a uma cascata de modificações celulares relacionadas ao surgimento de um câncer. Vale reforçar que o primeiro passo no combate ao aparecimento do câncer é a conscientização dos indivíduos a respeito da importância de hábitos de vida e de alimentação mais saudáveis. O consumo de alimentos nutritivos e naturais, a prática regular de exercícios físicos e a não ingestão de bebidas alcoólicas e uso do tabaco já contribuem para a diminuição dos riscos de desenvolver a doença. Pesquisas comprovam que esse comportamento reduz em 63% a incidência de câncer de boca, faringe e laringe; em 60% de esôfago; 52% do endométrio; 41% do estômago; 34% do pâncreas e 37% do intestino grosso. Ainda segundo dados do Inca, seria possível evitar 19% de todos os cânceres caso as pessoas aderissem a uma vida mais saudável. O alto índice de cidadãos diagnosticados com câncer no País - cerca de 500 mil novos casos por ano, conforme informações do Inca - faz com que nós, médicos oncologistas, reflitamos sobre maneiras mais eficazes de combate à doença. Atualmente, dispomos de tecnologia que nos possibilita diagnósticos improváveis até pouco tempo atrás e, também, de técnicas terapêuticas modernas que permitem tratamentos cada vez mais eficientes e menos mutilantes. Evoluímos do uso de algumas poucas drogas extremamente tóxicas para um amplo arsenal terapêutico. O melhor conhecimento do complexo mecanismo celular também contribui para que nós, médicos, possamos agir de uma maneira mais dirigida, seja no controle da doença ou na correção de seus efeitos. Podemos associar aos tratamentos quimioterápicos, que também evoluíram muito, as drogas com mecanismos de ação específica tentando aliar melhores respostas terapêuticas a um melhor perfil de toxicidade. Infelizmente, a prática clínica, por vezes, nos mostra que nem sempre aquilo que foi testado e demonstrado no laboratório reflete em um real benefício para o paciente. Individualizar talvez seja a palavra mais importante na abordagem aos pacientes. Cada indivíduo traz consigo características únicas que devem ser levadas em consideração no seu planejamento terapêutico. Devemos lembrar que o sucesso de um tratamento, por mais avançado que ele seja, estará sempre associado a algo muito importante: atenção! E aqui queremos dizer atenção em seu sentido mais amplo, seja nos cuidados do dia a dia, no acompanhamento sistemático da doença ou nas necessidades individuais do paciente. Isto faz toda a diferença! Aprendemos muito com os nossos pacientes, evoluímos cientificamente com eles. Mas, o mais importante, é o crescimento como seres humanos que temos com a oportunidade do convívio com cada um. Assim, essa luta diária vai sendo vencida ao associarmos o melhor da ciência moderna ao melhor do nosso lado humano. Nota do Editor: Bruno Ferrari é presidente da Regional Minas da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.
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