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Crônicas
19/05/2011 - 15h02
O tinto
Nélia Cristina de Carvalho Santos
 

Alguns motoristas só se preocupam com o combustível e calibragem dos pneus, o resto... que resto? Assim era eu tempos atrás.

Certa vez, em viagem para Areias, com meus filhos ainda pequenos e, como uma mulher prevenida, me sentia uma tartaruga. Não por dirigir devagar, mas por levar a casa nas costas.

Levava de tudo. Além de roupas, levava frasqueiras com remédios de fazer inveja a qualquer farmácia, televisão, aparelho de vídeo cassete (faz tempo), brinquedos, banheira, pacotes de fraldas descartáveis, isopor com iogurtes, congelados, tudo o que se imaginar, com certeza, naquele carro tinha. Perdão, quase tudo. Não tinha documento em dia.

Logo no início da viagem o guarda me parou. Havia um mundo de carros e ele me parou! Olhou para o carro lotado, duas crianças em cadeirinhas atrás, um cachorrinho no banco da frente e eu com mamadeiras por todos os lados. Quando ele olhou os documentos, disse que estavam vencidos. - Que ótimo, pensei! Ele falou que ia apreender o carro, então eu falei:

- Tudo bem, mas eu tenho que ficar aqui com ele, com as crianças e mais o cachorro.

Ele, então, resolveu me multar e me mandou embora e me alertou que, por causa do final da placa do carro, eu poderia ser barrada nos outros postos rodoviários. Eu só deveria mostrar que já tinha sido multada e pronto.

Continuei a viagem. Chegamos a Areias, onde passamos uma semana e na volta meu pai, que também estava por lá, me pediu uma carona até São Paulo, onde eu morava na ocasião, para uma audiência.

Eu fui carregada e voltava mais ainda, com vasos de samambaias lindas. O carro parecia uma reserva florestal. Meu pai todo alinhado ficou com o seu impecável terno azul marinho todo cheio de pelo branco da minha cachorrinha maltês. No mesmo instante em que avistei um posto policial, meu filho Dudu passou mal e começou a vomitar. Parei o carro por causa de meu filho, mas o guarda também já estava me dando sinal para parar. Nem dei bola pra ele. Aliás, pedi socorro. Pedi que me ajudasse com meu filho. Perguntei se poderia lavá-lo no interior do posto.

Aflita, eu puxava o Dudu, tentando tirá-lo do carro e ele dizia:

- Mãe o tinto, o tinto!

O meu pai, naquelas alturas, estava camuflado entre as samambaias.

Enfim, o tinto era o cinto de segurança.

Eu puxava meu filho que estava preso com o cinto, sem me tocar da situação.

O guarda me ajudou, limpou meu carro por dentro onde ocorreu o “acidente” e nem quis ver meus documentos. No final, me desejou uma boa viagem e eu tratei de seguir logo.

Chegamos a São Paulo.

Meu pai desceu na estação de metrô com um terno todo personalizado, já não tão impecável. Tinha detalhes brancos dos pelos da maltês e verdes das samambaias. Acho que é por este motivo que ele agora prefere viajar de ônibus.

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