Finalmente o país vê atrás das grades prefeitos, governadores, parlamentares e outros poderosos errantes. A ação firme da justiça, do ministério público e das políciais devolve ao povo a crença de que nem tudo está perdido. Historicamente, só iam para a cadeia os pobres e desvalidos, enquanto os figurões igualmente criminosos eram poupados graças ao bom relacionamento, ao tratamento oligárquico e à falta de vergonha daqueles que tinham o dever de combater as falcatruas, mas não o faziam. Para que figurões e colarinhos-brancos fossem punidos, era necessária a quebra institucional e, mesmo assim, eles ainda acabavam se ajeitando. Não somos partidários de uma caça às bruxas indiscriminada. Mas defendemos que todos os crimes sejam exemplarmente apurados e resultem na mais justa punição, pouco importando se o criminoso é alguém do povo (que, via-de-regra, já é punido) ou algum poderoso, de bom tráfego e endinheirado. A lei é para todos e não deve fazer distinção entre classes e castas sociais. A pena deve ser aplicada em relação ao crime, pouco importando a identidade do criminoso. Há muito tempo, por conta das notícias das numerosas irregularidades seguidamente cometidas por administradores públicos e da falta de conseqüências, o povo deixou de acreditar nos políticos e nas instituições encarregadas de fiscalizá-los. Isso é muito ruim para a sociedade que, num clima desses, fica órfã. No entanto, nos últimos anos, graças à força de vontade e comprometimento da nova geração de magistrados e procuradores, os figurões criminosos e inatacáveis de ontem passaram a ter de prestar contas de seus atos. Alguns amargam a cadeia, diante da incrédula população, acostumada a vê-los delinqüir impunemente. Governadores, prefeitos, ministros, secretários e todos os que de alguma forma manipulam verbas públicas têm, definitivamente, de entender a gênese de suas funções. Eleitos ou nomeados, todos foram colocados na função para prestarem um serviço público, jamais para se locupletar ou favorecer a terceiros. Em vez da impunidade, devem ter a certeza de que todas as suas ações estão sob o crivo de órgãos controladores que as aprovarão ou, em caso de desvio, promoverão a mais ampla e justa reparação, em respeito ao povo, único dono e destinatário do serviço público. O que temos visto nos últimos tempos, com a prisão dos poderosos, nos dá a sensação de que o Brasil caminha para dias melhores. Oxalá, num futuro muito próximo, os administradores públicos tenham ganho credibilidade e sobre eles não pairem mais as dúvidas ainda vigentes. Que os ladrões, de que hoje o povo tanto fala, não tenham mais a coragem de se candidatar a postos eletivos e nem de postular cargos públicos. E que o país resolva definitivamente a questão do financiamento das campanhas eleitorais, pois ela tem servido de muleta para muitos administradores justificarem o assalto que promovem aos cofres públicos... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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