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Opinião
24/05/2011 - 17h00
Bem-vindo a este maravilhoso país, chamado Brasil
Açucena Calixto Bonanato
 

Deparamo-nos com a dura realidade de presidiários que tem o direito ao indulto, quer seja de Dia das Mães, Pais, Natal, ou Páscoa. Fato é, a maioria deles não retorna ao presídio. “Nossa, que surpresa”???!!?!!?

Deparamo-nos todos os dias com fraudes e desvios de verbas públicas, sempre aos milhares de reais, enquanto a nossa pobre população morre na fila de espera para atendimento médico de emergência.

Deparamo-nos com uma população pobre, sem capacitação profissional que se vangloria de receber salário família, bolsa gás, bolsa leite, bolsa qualquer coisa, que somado monta em aproximadamente mil e duzentos reais, enquanto outros pobres trabalhadores dão duro para receber o salário mínimo e sustentar uma família de 4 ou 5 pessoas, pagando aluguel, é claro.

Não raro me deparo oferecendo emprego para estas pessoas, que riem da minha cara, quando ofereço setecentos reais para um trabalho de 8 horas diárias, segunda à sexta. Elas riem e dizem: ”recebo muito mais, sem sair de casa e sem encheção de chefe e de empresa”.

Não raro também me deparo com pessoas com deficiência que recebem um auxílio doença mensal e não querem abrir mão dele para trabalhar com carteira assinada.

- “Eu, não vou trocar o certo pelo duvidoso. E se eu perder o emprego”?

E o governo????? Não esclarece que eles não perdem, mas fica suspenso, enquanto está trabalhando e pode solicitar novamente se perder o emprego. Cômodo, para ambas as partes, o governo finge que não vê e não controla mesmo e as pessoas se aproveitam, se encostando nos cofres do governo – e nós pagamos.

Como se já não bastasse, tem a Prefeitura de São Paulo, lançando a moda de teletrabalho para deficientes. Para quem desconhece o termo, teletrabalho é a forma de trabalho realizada em lugar distante do escritório central e/ou centro de produção, que permite a separação física e que implique no uso de uma tecnologia facilitadora de comunicação (definição segundo a OIT – Organização Internacional do Trabalho). Perceba que a própria definição já implica em dizer “separação física”. É isso mesmo. Separação física do que não é padrão e a sociedade não quer ver, muito menos conviver. Excelente solução para implodir de vez a dura tentativa de inclusão social de pessoas com deficiência neste país.

Engraçado que a melhor desculpa para o implemento do conceito de teletrabalho para deficientes é a dificuldade de locomoção, de transportes adaptados e o caos do trânsito. Aí eu pergunto, o incentivo ao teletrabalho é para as pessoas que tem muita dificuldade de locomoção? Não, é para todos os deficientes. Só eles tem problemas com o trânsito e com os transportes? Não estamos indo na contramão da inclusão? Ora, que emocionante!!!! Teletrabalho para pessoas com deficiência, que sempre foram excluídas da sociedade. Vamos aplaudir, ao invés de promovermos a inclusão, de termos transportes adaptados e dignos, ruas com acessibilidade, locais, inclusive públicos adaptados, promovermos a plena acessibilidade de comunicação, lazer e convivência, a prefeitura vai na contramão da inclusão, fortalecendo o isolamento dentro de casa.

Para aqueles que não sabem, o teletrabalho traz grandes desvantagens que devem ser consideradas, como:

1. Isolamento social - sendo o trabalho executado no local da habitação, não existe a interação social, o trabalhador enfrenta uma enorme solidão, provocando eventuais impactos psicológicos, tais como depressões;

2. Isolamento profissional - o trabalhador não tem contatos informais com os colegas de trabalho e até mesmo com a hierarquia. A falta de contato, frente a frente com os colegas, provoca insegurança;

3. Redução das oportunidades profissionais - o afastamento físico da empresa pode levar ao esquecimento do trabalhador em eventuais promoções, podendo, inclusive, gerar uma má avaliação de desempenho;

4. Falta de capacitação ou atualização profissional – estando longe do contato com colegas e hierarquia, não se desenvolve profissionalmente, ficando estagnado no seu conhecimento prévio atual;

5. Contrato de trabalho – o fato do trabalhador ter um contrato de trabalho individual específico, e existindo ainda lacunas legislativas, poderá gerar mais dificuldades em efetuar reivindicações laborais, podendo até mesmo perder benefícios sócio-economicos;

6. Problemas familiares - é frequente o relato de problemas familiares causados pelo partilhamento do mesmo espaço;

7. Trabalho e lazer - como o espaço de trabalho e da habitação é o mesmo, existe uma tendencia em prolongar as horas de trabalho diário, reduzindo sensivelmente as horas de lazer e, por fim, ainda poderá ter muita dificuldade em se adaptar a um novo emprego, se deixar de trabalhar em casa.

Além disso, tornar a residência do trabalhador em um local de trabalho exige condições específicas, ainda mais para pessoas com deficiência. É recente a discussão sobre a inclusão social e acessibilidade digital das pessoas com deficiência. O acesso à internet, na maioria das vezes, é imprescindível para o envio de planilhas, relatórios e troca de informações com o empregador, fora o relacionamento com clientes. Devem ser observadas condições adequadas para a instalação dos equipamentos de trabalho na residência do empregado, com ênfase ao respeito à individualidade da família. Há que se falar em acessibilidade digital, ou flexibilidade do acesso à informação e interação dos usuários que possuam algum tipo de deficiência ou necessidade especial, no que se refere aos mecanismos de navegação e apresentação das páginas, operação de softwares, hardwares e adaptação de ambientes e situações.

Como se já não bastasse tudo isto, quem conhece o público de pessoas com deficiência sabe que a grande maioria deles, que tem curso superior, ou alguma qualificação profissional já está empregada. Quem não tem dificuldade de locomoção também tem boas oportunidades para a qualificação e emprego. Portanto restam aqueles profissionalmente desqualificados que precisam da oportunidade do emprego e cursos de capacitação e não da grande oportunidade de ficar mais uma vez esquecido dentro de casa.

Para ser contratado para o teletrabalho, o candidato tem que ter bons conhecimentos profissionais e de informática. Isto pode ser realidade e lindo, nos Estados Unidos e em países mais desenvolvidos que o nosso onde, pelo menos, o direito de ir e vir está plenamente garantido.

Vamos ser sinceros? Quem quer conviver com o que é diferente? Que exige adaptações, flexibilidade de comunicação, preparo pessoal e profissional para o convívio harmônico? Quem quer conviver com o que é feio? É, feio, porque fugir do padrão é feio. Ser gordo é feio, estar com o rosto marcado por cicatrizes é feio, ter marcas de queimadura expostas é feio, ter vitiligo é feio. Ah, não se faça de ingênuo e de surpreso. Não estou relatando nada que não seja a pura e cruel realidade das pessoas que não são padrão. Será que mais de 75 mil exemplos te bastarão? Quer que eu relate a história de vida de cada um deles?

Este é o Brasil lindo e maravilhoso, gentil, amável com os estrangeiros, em que vivemos.

Aceitamos todas as situações de falta de segurança, de transporte público indigno, da falta de uma boa assistência médica e da exclusão social, como se fosse absolutamente normal. Agradecemos a Deus por chegarmos vivos em casa, todos os dias, sem termos sido assaltados ou aviltados. Que país é este?

Não temos o mínimo de respeito e educação com as pessoas que fogem à dura ditadura da beleza e posso dizer com segurança, hoje vivemos uma realidade de empresas que não querem contratar pessoas com deficiência, mas são obrigadas por lei e de outro lado, pessoas com deficiência que não conhecem o seu direito, sendo, muitas vezes defendidas por órgãos ou instituições que não as conhece.

Certamente este não é o país do qual meu avô, um estrangeiro, tinha tanto orgulho, que até se naturalizou brasileiro. Certamente não é o mesmo que o meu tio, um engenheiro civil, que viajava o mundo todo e sempre me dizia que não há país como o Brasil, abençoado por sua natureza perfeita e lindo por natureza. O que fazemos deste país? O que fazemos da nossa população?

Se separamos o lixo para reciclagem, não temos coleta seletiva. Se fazemos uma campanha para não comprar produtos piratas, somos tidos como idiotas. Se fazemos um trabalho pela inclusão de pessoas com deficiência, quase temos que convencer seus pais e a eles próprios de que trabalhar é bom e certamente temos que convencer os empresários de eles podem trabalhar.

Acompanhamos a corrupção desenfreada no país, projetos sociais só de fachada, verbas públicas desviadas e não ressarcidas aos cofres de origem, nossa população tão sofrida e os poderes públicos fazendo o que querem, com nossa pobre e desinformada população dizendo amém.

Se vocês acham que não gosto deste país, grande engano. ADORO e por isso me enluto quando observo tanta coisa errada e tanto logro às pessoas menos informadas.

Infelizmente também sei que escrever não adianta de nada, porque as pessoas que deveriam saber deste protesto, não lêem noticias, jornais ou e-mails e não estão em redes sociais. Contudo, precisava deixar aqui, expresso e impresso, o meu desabafo.

Acorda Brasil, enquanto ainda temos tempo!


Nota do Editor: Açucena Calixto Bonanato é Presidente Executiva do Instituto Pró-Cidadania - Sede - São Paulo.

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