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Crônicas
25/05/2011 - 15h01
Ou ele ou eu!
Jorge Pereira
 

Nos últimos anos tenho notado que houve mudanças nas visitas ao meu consultório. Antes, o número de mulheres que procuravam ajuda para resolver os problemas dos seus cães era muito maior do que os homens, mas isso é normal. Todos sabem o quanto é difícil para um homem pedir ajuda, basta lembrar da última vez que vocês se perderam de carro enquanto procuravam uma rua. Quanto tempo levou para ele decidir parar e pedir informação? O homem admitiu que errou o caminho?

Antigamente, o número de homens era muito pequeno em relação ao de mulheres que buscavam melhorar o comportamento dos seus peludos. Mas, as coisas mudaram com o passar do tempo: um número maior de homens começou a acompanhar as mulheres nessas visitas. No meu consultório, antes de falar sobre cachorros gosto de saber como é a rotina da família e o que mais cria conflito entre eles. Com isso, descobri um fenômeno muito interessante: em muitos casos, além do problema de comportamento, também existe um problema conjugal envolvendo maridos, namorados, noivos que tem que dividir o espaço com um cachorrinho ciumento.

Se não fosse trágico seria cômico ver os acompanhantes chegarem ‘marrudos’ e com cara de poucos amigos, choramingando que o cachorro recebe mais atenção que eles. O pior é ver que algumas dessas mulheres sabem disso e ainda acham graça da situação. Mas, o que parece engraçado e simples pode se tornar um problema de proporções assustadoras e colaborar para o término do relacionamento ou na saída do mascote.

Abordado esse assunto, agora vou contar a vocês um caso muito engraçado, mas que se não houvesse intervenção aqui do treinador, agora terapeuta conjugal, o caso teria um final muito triste. Fui atender a solicitação de uma senhora que tinha vários cães e que precisava resolver uma briga entre duas cachorrinhas que sempre viveram juntas. Quando cheguei ao local fui surpreendido por uma grande matilha, com aproximadamente 10 animais e uma grande desordem.

No final do corredor uma senhora sorria e falava. Não conseguia ouvi-la por causa dos cães que mais pareciam um terremoto. Assim que ela conseguiu passar pelos bagunceiros, me conduziu até a sala onde um senhor muito calmo estava sentado me aguardando também. A cachorrada entrou antes de mim e subiu no sofá. Ninguém mais conseguiu conversar até que todos fossem colocados para fora.

Após ouvir a história das cachorrinhas que estavam brigando, ouvi a versão do senhor, que até aquele momento só escutava e nada dizia. Perguntei quem passava mais tempo com os cães. Antes que ele respondesse a senhora se antecipou e disse que era ela. Minha próxima pergunta foi: quem alimentava os cães e quem tinha mais controle sobre eles? A ligeira senhora respondeu que era ele.

Visualizei um padrão bem comum em locais em que se encontram animais que sofrem de ansiedade, e que geralmente é alimentada pelos tutores. Matei a charada. Pedi, de forma educada e sem causar suspeita das minhas intenções, que somente ele me respondesse às minhas perguntas. Direcionei para as necessidades dele. Logo, o senhor soltou a língua e entregou tudo o que ocorria: o quanto era negligenciado pela esposa e seu descontentamento para tanta atenção dedicada aos peludos. Nada sobrava para o senhor que ainda era muito apaixonado pela sua senhora.

O caso das cachorras era simples: elas brigavam porque ela era muito permissiva e deixava os peludos deitarem em sua cama. Muitos ficavam sem espaço, o que gerava disputas entre todos os cães da casa e o restante do grupo dormia em outra cama com o senhor, que era obrigado a compartilhar da companhia de um grande mestiço de pastor alemão, que à noite o empurrava para fora da cama. A disputa pelo dormitório estava causando, ao marido da dona da casa, dores nas costas e muita chateação pelas noites mal dormidas.

Outra reclamação era que ele não dormia com a sua senhora a mais de três anos e que toda atenção e tempo dela era direcionada para os cães. Mesmo que ele fizesse algo romântico ela não dava atenção. Ele não suportava mais esse tratamento. A filha que lhe dava mais atenção, conversava e o levava para passear havia se casado e a situação ficou insuportável por conta das brigas dos cães.

Depois de resolver o problema dos cães, foquei na situação do casal e como eu poderia ajudar a resolver o conflito do casal. Sentei os dois e mostrei que as cachorras, se houvesse disciplina e a senhora não fosse tão permissiva e deixasse que os animais reinassem na casa sem controle, poderiam ficar dentro da casa, mas era necessário estabelecer regras. Na hora de dormir, a prioridade na cama deveria ser do casal. A cama existente no outro quarto da casa poderia ser usada pelos cães.

Muito contrariada a senhora concordou, a fim de cessar as contendas entre os cães. Depois disso, contei a ela o descontentamento do esposo, que ele sentia a falta dela e quanto a amava. Deixei claro que o amor dele era tão grande que se submetia a dormir em outro quarto, sendo empurrado por um pastor alemão muito folgado e não reclamava, pois queria agradá-la. Nesse instante, saí para ver como estava a cachorrada e se tudo estava tranquilo. Quando voltei me deparei com o casal abraçado apaixonadamente. A senhora, com os olhos marejados, me disse que não percebia o quanto ela estava se distanciando do seu velho amado e que agradecia por tê-la aberto os olhos.

Finalizando, fiz uma proposta ao casal: sugeri que eles viajassem por um final de semana. Me comprometi a tomar conta dos cachorros, mas com uma condição: que eles continuassem cuidando bem dos cães, mas que não se esquecessem de cuidar do relacionamento deles.

Desse fato fica a lição para as mulheres: cuidem bem dos seus mascotes, mas se tiver um espacinho no pé da cama, deixe para nós (rapazes), afinal o que queremos é um pouco de carinho e ouvir de vocês: “bom menino”. Esse pequeno gesto é suficiente para ficarmos muito felizes!


Nota do Editor: Jorge Pereira (www.jorgeadestrador.com.br) é cinotécnico e etólogo, especializado em comportamento canino.

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