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Opinião
27/05/2011 - 11h05
A doença do século
Dartagnan da Silva Zanela
 

“Não use palavras ríspidas comigo senão eu ficarei traumatizado!” Ah! Que dó! Que dó! Quanto “não me toque” vem tomando conta de nossa educação devido a esse concurso de bom-mocismo politicamente-correto que infecta nossa sociedade com seu pervertido moralismo de alcova.

Isso mesmo, meu caro Watson. O que os pseudo-educadores e burocratas (com suas “pedagogias inovadoras”), que adoram dar lições de bom-mocismo, se esquecem é que a vida não é feita apenas de afagos e colinhos. Seja em uma sociedade tribal, em um pesadelo socialista ou em um pacóvio devaneio capitalista, a vida sempre apresenta situações que nos angustiam e que batem de frente com os nossos desejos, negando-nos a realização dos mais íntimos anseios.

Claro que os campeões do bom-mocismo dizem que isso deve ser superado, que devemos construir um “mundo melhor possível” e toda aquela lengalenga que nem mesmo eles acreditam, mas, dissimulam acreditar. Todavia, negar existência perene das incertezas e das angústias na vida humana é negar a própria humanidade de nossa existência.

Ora, quando deitamos as vistas nas Confissões de Santo Agostinho, ouvimos as palavras do bispo de Hipona ecoarem em nosso íntimo nos dizendo que o coração do homem apenas encontra repouso no Senhor. Enquanto aqui estamos, neste mundo, será combate e nada mais. Imaginar que iremos viver uma vida sem angústias e problemas é delírio ou de gente muito fraca ou mal intencionada. Creio que há uma grande porcentagem de ambos os tipos e um bom tanto que seja um produto híbrido dos dois.

Doravante, cá com meus parcos botões, julgo que deveria ser imprescindível ensinar a nossos jovens a lidar com as frustrações, visto que elas são uma constante em nossa vida. Ensinar a lidar com isso não é sinônimo de bom-mocismo, mas sim, de uma amorosa ação paterna. Detalhe importantíssimo: agir como um pai significa que se deve agir com solene autoridade e firmeza de decisão diante do que está se apresentando diante dos seus olhos, mesmo que seu coração encontre-se torcido pelo desejo de não o fazer.

Digamos, por exemplo, que seja algo similar a dar uma dose daquele xarope horrível para uma criancinha. Você não gostaria de obrigá-lo a tomar e esse, por sua deixa, se nega a bebê-lo, porém, você sabe que é necessário, mesmo que seu coração palpite e grite o desejo de fazer o contrário. Em matéria de educação não é diferente. Entretanto, infelizmente, em nossa sociedade, a maioria ululante dos adultos não quer agir como um pai (e mesmo como adultos), mas sim, como a um vovô.

O pai deve impor os limites necessários para que o pequeno cresça em Espírito e Verdade. O vovô, por sua deixa, todo mundo sabe, aceita tudo o que os netinhos fazem. Quem castiga é o pai, não o pai do pai. Quem dá a dura é o primeiro e não o segundo. Quem tem o dever de chamar o mancebo à realidade é aquela geração que tutela esse e, fazer isso, não é tarefa para quem teme agravos e caras feias.

Entretanto, no entendimento do povo “progressista” e do “bem”, que vê em tudo uma perversa inclinação para traumatizar o mancebo, não seria este que deveria ampliar a sua compreensão para abarcar às dimensões do real e, deste modo, para que esse os preencha e os eleve. No entender dessas pessoas maravilhosas e boazinhas deve ser a realidade, a começar pela realidade escolar, que deve se adaptar aos desejos e anseios dos não tão pequenos para que eles se fechem em seus mundinhos e elas, as pessoas boazinhas, sintam-se mais boazinhas, mesmo que estejam iludindo as crianças com os seus devaneios politicamente corretos e humanamente perversos.

Resumindo a ópera: viver humanamente significa saber administrar as suas angústias e frustrações de uma forma razoável. Aprendemos essa lição não com palestras motivacionais e muito menos com bajulações pedagogescas. Aprende-se isso enfrentando os problemas que a vida nos apresenta e com aqueles outros tantos que nós mesmos construímos com as nossas escolhas desastradas e desarrazoadas.

Trocando por dorso (ou qualquer outro miúdo de sua preferência), como dizia minha mãe e meu pai em minha porca juventude: só se aprende certas lições quebrando a cara. Todavia, como aprender certas lições em um sistema educacional que trata as tenras gerações como se elas fossem finas e delicadas porcelanas e os professores como sendo terríveis marretas de moldar ferro, prontas para malvadamente quebrá-los? Como, meu caro?

Só mesmo na cabeça dessas sebosas almas que esse cenário existe. Cenário esse que as adoece moralmente e, não contente em estarem tomadas por essa pestilência, querem que todos sofram com esse delírio que, diga-se de passagem, vem deixando um enorme rastro de destruição em nossa sociedade.

Finalizando: como diz o Supremo Apedauta, “nunca antes na história deste país se viu” uma quantidade tão grande de pessoas com diplomas que certificam que ele passou por uma escola sem nada (ou quase nada) aprender. Mas, o importante é que os professores não as traumatizem, atentando contra seus egos inchados, tentando ensiná-las aquilo que elas deveriam aprender. E que eles ensinariam, se não houvesse tanto bom-mocismo politicamente-correto e pedagogias populistas que tanto turvam os ares destas paragens. Aliás, em que medida nós, pais e professores, também não fomos tomados por essa pestilência?


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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