Todas as vezes que fico indignado na fila de um banco; um departamento público ou engarrafamento, não por excesso de carros, mas por falta de um ordenamento eficaz, lembro desta frase e a emoção de senti-la na presença do meu pai. Somos mesmo gado. Nos conformamos com o suplício de desconhecidos, como se não fossemos, em algum momento, participar do "sorteio" perverso que o Estado nos impõe, uma loteria às avessas, onde, nossas liberdades são restringidas - minimamente ponderando -, pois, na verdade, de uma ou outra forma, são nossas vidas que estão em risco. Agimos com parcimônia, pois, um dia o iluminismo nos contagiará com suas benesses, aí, cansados pela demora, reagimos em um dia de chuva ao estourar o pneu do carro em uma via mal pavimentada, com a fúria de um parceiro(a) traído(a), como se já não soubéssemos o risco que corremos diariamente. Sentindo tudo isto, sempre pensei em reagir de forma contundente a ponto de sensibilizar todo o país. Há tempos atrás, senti o quanto isto é indiferente a todos, foi pela ocasião do pedreiro baiano que ateou fogo ao corpo em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília. Sofri e sofro com ele, pois, não com a vivência, mas, com a leitura de histórias orientais, sempre achei que o ato impactasse ao ponto de mobilizar a opinião pública de tal forma que os governantes se mobilizariam ao encontro das revindicações do suplicante. Deu-se o episódio e uma amostra de todo o nosso sofrimento, no caso um desempregado desesperado, não contagiou quase ninguém. Foi mais um "otário" - aqui ressalto o que suponho que os nossos líderes pensam e não o que o pedreiro se tornou -, que não soube sobreviver em um país tão dadivoso e próspero. Sua imolação tornou-se um ato descabido e irresponsável para o pensamento comum e não um momento de ruptura, onde, todos deveríamos perceber que algo não estava dando certo. Assim, somos todos nós, salvos os que se indignarem com a inclusão que faço à revelia. Não conseguimos perceber que aos poucos estão nos matando com a insegurança pública; estradas mal conservadas; hospitais superlotados e entre outras coisas, pelos juros cobrados por nosso sistema financeiro (inclui-se a irresponsável dívida pública com uma SELIC indecente) Fossemos conscientes do risco que corremos SEM A MÍNIMA NECESSIDADE, sairíamos todos à rua e paralisaríamos este país, não para que tudo se solucionasse da noite para o dia, mas para que nossos líderes percebessem o quanto estão impedindo de sermos felizes e realizados como seres humanos. Não somos como nossos algozes, cães selvagens que dilaceram suas vítimas, não pela fome, mas pela insaciedade de ter o que por toda a vida jamais poderão consumir a contento, pois, eles acumulam muito além de suas necessidades, como se o poder da acumulação lhes substituíssem o gozo da realização de uma vida produtiva e equilibrada. Wagner Aparecido Nogueira wagner_nog@yahoo.com.br Ubatuba, SP
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