As possibilidades de crianças pequenas se meterem em encrencas são imensas. Aos dois anos e meio Luiz Felipe, meu filho mais velho, frequentava o maternal. Na Semana da Criança daquele ano, a escola proporcionou diversas atividades, entre elas a presença de um mágico. Os pequeninos ficaram encantados com as fabulosas mágicas e voltaram para casa contando todas as novidades. Eu estava preparando uma refeição enquanto o Luiz Felipe brincava pela casa. De repente, ouvi uma tosse estranha. Corri para ver e vi Felipe com os olhos cheios d’água, batendo no peito, dizendo: - Ai, guli! - Assustada, indaguei: - Engoliu o que, meu filho? Inocentemente ele me respondeu: - Goli mágica, real!!! (Todo feliz, parecendo ter conseguido realizar com êxito, a fabulosa mágica.) Se fosse assim, os mágicos seriam uma verdadeira caderneta de poupança. Larguei tudo, peguei o meu garoto e corri para o hospital mais próximo. Chegando lá, fomos atendidos por uma médica que logo disse que achava improvável Felipe ter engolido uma moeda. Eu não me lembrava de moeda nenhuma, não por ser organizada, mas porque gastava tudo mesmo. Assim, a médica colocou em sua mesa, tampa de caneta, lápis, borracha, clips, moeda e mais algo que não me recordo. Pacientemente ela perguntava: - Para que serve isto? (pegando o lápis) - Pa quevê. - Respondia Luiz Felipe. - E isso? - Mostrando a moeda. - Real. Mágica! Golí! - Exclamou Luiz Felipe, numa euforia que me deu pânico. A médica ordenou ao enfermeiro que o levasse imediatamente para o RAIO X. Que surpresa! Olhando para o exame, parecia que tinha um pires dentro do meu filho. Em São Paulo a médica disse que se a moeda não saísse em três dias, Felipe teria que sofrer uma intervenção cirúrgica. Que me desculpem os médicos novos, mas fui até São José dos Campos atrás do médico que fora meu pediatra. Ele parecia estar conservado a goles de formol, eu imaginava. Estava firme, forte, muito lúcido e competentíssimo o Dr. Nathanael Silva. Com uma calma insuportável, ele me disse: - Mãe, o perigo é quando a criança inala alguma coisa. Neste caso, o mais correto é fazê-lo ingerir bastante biscoito de polvilho, maçã, banana e você ficar bastante atenta e com muita paciência, para observar “as saídas”. No máximo, em uma semana, você terá a sua economia de volta. Felipe já não usava mais fraldas, mas para “pesquisar” as “saídas” naquele período, voltou a usá-las. Enfim, em alguns dias estava lá meu investimento ao prazo mais longo que se podia imaginar. Hoje, está depositado na casa do vô Nélio que o guardou como se guarda um troféu de Honra ao Mérito. Luiz Felipe, hoje, com dezoito anos, não consegue economizar nem um centavo. Se ele pega algum dinheiro na mão, logo gasta e sempre diz, com sua rica experiência, que dinheiro foi feito para gastar mesmo. Eu, cá, respeito a opinião dele, pois acredito que ele deve ter ficado bastante traumatizado.
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