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Opinião
10/06/2011 - 13h03
Prioridades e premissas
Mauro Calil
 

Recentemente reencontrei um amigo de infância. Um daqueles com quem jogava bola, ia a shows na adolescência, dormíamos um na casa do outro de vez em quando, entrávamos nas mais diversas e inocentes encrencas e, também, saíamos juntos delas. Enfim, amigão mesmo.

Ele me viu na TV, buscou meu nome na internet e me ligou convidando-me a ir visitá-lo em sua casa recém-construída. De pronto aceitei o convite. Obviamente fui muito bem recebido por um casal super orgulhoso de suas conquistas materiais - seu contentamento somente era menor que a felicidade de terem gerado dois filhos. Mostraram cada cômodo da casa, a área de churrasqueira, piscina, lareira, a cozinha com eletrodomésticos novinhos e todas as quatro TVs de tela plana, uma para cada pessoa dentro da casa nova.

Enquanto as crianças brincavam e nossas mulheres se conheciam, meu amigo fazia o churrasco e relembrávamos as mesmas histórias e piadas de 20 anos atrás (ou mais). Conversa vem, conversa vai, perguntei a ele por que ainda não havia colocado vidros nas janelas? Afinal, bastava abrir as venezianas para que o vento soprasse muito. Com venezianas fechadas soprava menos.

A resposta foi simples: “Tá louco Mauro? Você viu a quantidade de vidros que tenho que colocar nesta casa? O vidraceiro divide em no máximo três vezes. Assim que terminar de pagar algumas contas, vou juntar para isso.”

“Ah, OK”, pensei e respondi. Afinal, trata-se de meu amigo e do dinheiro dele. Mas a atitude dele me fez pensar em prioridades e premissas. Meu raciocínio é simples: para quem possui quatro TVs super modernas, acredito que possa comprar vidros para as janelas, afinal seriam mais importantes. Ao menos, para mim.

As conquistas daquela família, e de muitas outras, foram galgadas no crediário, na recém-formada cultura financeira do brasileiro encapsulada na frase “cabe no bolso”. Tal cultura é galgada em premissas temporais e, por vezes, etéreas como, ter um bom emprego e empregabilidade, ou, se for demitido, conseguir uma recolocação rápida. Ou ainda, o Brasil está crescendo e a inflação controlada. O fato é que tudo isso pode passar e as dívidas continuarão.

Quero eu estar errado, mas os dados oficiais mostram que a inflação decola para um vôo suave. Portanto, em um orçamento no qual a prestação de quatro televisores seria plenamente aceitável, não mais será em pouco tempo. Vejamos em números:

Imagine uma família com receita familiar total líquida de R$ 5.000,00. As despesas com parcelas de tudo que é pago via financiamento somam R$ 1.750,00 (35%) e as demais despesas da família R$ 3.000,00 (60%). Portanto, sobram R$ 250,00 (5%).

Mesmo que todo o financiamento seja feito em parcelas fixas, as demais despesas como água, luz, telefone, alimentação, escolas, transporte etc. sofrerão a ação da inflação que, ao alcançar 10%, transformarão os gastos de R$ 3.000,00 em R$ 3.300,00, o que gerará uma falta R$ 50,00 no orçamento desta família e, a partir deste momento, estará no vermelho em suas contas mensais.

Para todos que deram vazão aos seus sonhos de consumo usando o caminho do crédito, incluindo meu amado amigo que permitiu usar seu exemplo neste artigo, sugiro que verifiquem a duração de suas prestações. Tomara que terminem antes da inflação alcançar de forma devastadora as demais despesas e o orçamento familiar.


Nota do Editor: Mauro Calil (www.calilecalil.com.br) é palestrante, educador financeiro e autor do livro “A Receita do Bolo”.

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