Dentro da visão politicamente correta de manter o corpo em movimento, evitar a poluição e preservar os recursos naturais, o empresário Antonio Bertolucci, de 68 anos, presidente do conselho de administração do Grupo Lorenzetti, perdeu a vida na última segunda-feira, quando se dirigia ao trabalho pilotando sua bicicleta, em São Paulo. O ocorrido chama a atenção para a necessidade da adoção de políticas e medidas que harmonizem a convivência entre os diferentes entes do trânsito. É cada dia mais necessária a criação de normas para a convivência entre veículos automotores, bicicletas e pedestres em nossas vias públicas. Hoje só os motorizados são alvos de controle, cuidados e fiscalização. Bicicletas e pedestres ficam em segundo plano. Na maioria das cidades brasileiras reclama-se que o motorista não respeita a faixa de pedestres. Mas, em contrapartida, os pedestres também ignoram esse espaço que lhe é reservado e fazem a travessia da via pública em qualquer lugar, pouco se importando com o fluxo de veículos. Os ciclistas são abandonados à própria sorte, sem qualquer exigência ou norma para freqüentar o trânsito urbano. Como resultado, muitos trafegam sobre os passeios públicos (reservados aos pedestres) e circulam acintosamente na contramão, expondo-se a riscos que deveriam ser evitados. As prefeituras são negligentes em relação à bicicleta e, muitas vezes, pintam faixas vermelhas no solo, denominam-nas “ciclovias”, mas não adotam medidas de segurança para a circulação das bicicletas. O avanço da tecnologia e da sociedade cria novos hábitos e possibilidades. Há décadas a bicicleta foi suplantada pelo automóvel e esteve restrita a espaços secundários. As transformações sociais, econômicas e ambientais levam muitas comunidades a “reviver” o veículo de duas rodas e tração humana. São Paulo, a maior cidade de América Latina, tem o movimento pela “bike”. Empresários, estudantes, profissionais liberais e outros do povo deixam o carro na garagem e circulam de bicicleta entre os milhares de veículos que diariamente congestionam as ruas. Isso é uma opção e pode parecer bonito, mas exige cuidados e políticas públicas compatíveis. As ciclovias devem proporcionar segurança, os ciclistas precisam ser orientados e agir de conformidade com as normas de circulação. O ambiente tem de ser preparado para comportar simultaneamente automóveis, motos, bikes e pedestres. Cada um dentro de suas especificações e normas de circulação e sujeitos às penalidades cabíveis em caso de transgressão. Todos os usuários das vias públicas têm direitos e deveres. A sociedade brasileira, que hoje só penaliza os condutores de veículos automotores, têm de igualmente exigir comportamento compatível de ciclistas e pedestres, orientando-os multando, se necessário. Do contrário, as mortes, lamentavelmente, continuarão a ocorrer... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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