A Grécia que há quase três milênios, com suas cidades-estado, forneceu ao mundo as bases da democracia e, além disso, é berço dos jogos olímpicos, filosofia, ciências políticas, princípios matemáticos e até do teatro ocidental, está vivendo o caos econômico-social. O governo insolvente é forçado pelo FMI a adotar medidas de arrocho econômico, os trabalhadores fazem greve e o país encontra-se mergulhado no caos, com o povo na rua protestando e reprimido pela polícia. Acontecimentos incompatíveis com o berço da maioria dos princípios que norteiam o mundo. A Grécia de hoje, reservadas as proporções, sofre os mesmos problemas do Oriente Médio e de outras regiões menos badaladas historicamente. Seus dirigentes são tão amaldiçoados quanto os sanguinários ditadores que o povo quer derrubar. Mesmo com toda sua tradição, os gregos não conseguem fugir do pragmatismo da Economia. Quando as contas não “fecham”, têm de recorrer ao mercado externo e a ele se curvar. É algo tão invulgar quanto o resumo da crise mundial de 2008, quando grandes corporações “quebraram” e só não fecharam as portas porque foram socorridas com o aporte de dinheiro público. Ficou claro que o capitalismo, para sobreviver, precisa do cofre público. Difícil para os puristas engolirem, mas real. Some-se à crise de 2008 e às dificuldades gregas de hoje, a instabilidade político-social do Oriente Médio, especialmente da Líbia e da Síria. O capital naufraga, o berço da democracia mergulha em dívidas e a rica região do petróleo, apesar dos petrodólares, vive a explosão político-social. Em resumo: a falta de equilíbrio entre política, economia e questões sociais, gera conflitos. Vivemos, no Brasil de hoje, uma fase de euforia. O país é um dos emergentes mundiais. Mas não podemos esquecer das dificuldades internas que, não resolvidas ou contornadas, podem igualmente levar ao caos. Engolfado de democracia (e democracia é algo bom!), nosso país percorre o perigoso caminho do fraco cumprimento das leis. Uma gama infindável de recursos e brechas gera a impunidade 3e o descrédito nas instituições. A segurança pública é deficiente e o sistema carcerário convive com o poder paralelo do crime organizado, que também impera nas regiões onde o Estado se fez ausente. Os governos têm sido lenientes ao permitir que movimentos sociais – como o MST, por exemplo – arrepiem a lei sem qualquer reprimenda. O mundo, globalizado, vive em grande ebulição. As crises avançam como a queda de soldadinhos de dominó e, quando chegam, são devastadoras. Precisamos de um Brasil mais justo, solidário e cumpridor das leis. Os governos, de todos os níveis, não podem negligenciar em suas tarefas e, em contrapartida, têm de exigir o mesmo dos cidadãos. Tudo isso para que a nossa democracia realmente funcione e seja duradoura, como todos desejamos. Só com democracia não se resolve problemas. A Grécia que o diga... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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