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Opinião
01/07/2011 - 12h01
O trânsito religioso nos dias atuais
Leandro Ortunes
 
Do campo para cidade

Assistindo a TV na madrugada ou simplesmente andando pelas avenidas da cidade, nota-se a quantidade de igrejas que se abrem todos os dias. Sem julgar a fé ou os dogmas de seus fiéis, pode-se fazer uma breve reflexão sobre as raízes que promoveram este crescimento de igrejas no Brasil.

Antigamente, havia uma cidade rural que vivia tranquilamente, com a figura do padre da paróquia, das benzedeiras, com as festas religiosas e toda magia de se encontrar com o sagrado. No campo, há uma família unida, presente nos momentos de alegria e tristeza.

Com a mudança do campo para cidade, alguns problemas surgem: o trabalho não é tão fácil como se esperava, a cidade é fria fraternalmente, e as pessoas se deparam com tremenda solidão. Na cidade, não há mais a figura do padre do campo, pois na cidade ele não pode dar toda atenção e muito menos conhecer os problemas mais profundos dos fiéis. O Catolicismo da cidade é diferente do Catolicismo do campo. Na cidade, não há mais todas as festas que alegravam o povo, toda bela cultura do campo brasileiro não encontra espaço no urbano. O contato mágico com o sagrado se perde, e nem mesmo a família se faz presente para confortar este desamparo. Ainda é possível encontrar benzedeiras e algumas paróquias com as caraterísticas do campo, mas são raras. Então, surge um novo movimento religioso: o pastor com um discurso diferente do padre, agora fala a língua do povo, ele acolhe, aconselha e está diariamente com você, seja na igreja ou no simples ligar da TV. Ele “benze” a chave de sua casa ou carro, se identifica com os problemas sociais que o povo vive, e proporciona uma esperança de um futuro melhor.

Com essa nova proposta de religião, o trânsito religioso se forma: pessoas migram entre igrejas em busca da religiosidade que responda a suas necessidades. Esta busca é um reflexo do desencantamento que a cidade proporcionou, pois a racionalidade e o agito da vida moderna não respondem uma das demandas destas pessoas: o contato mágico com o sagrado. Não somente pessoas do campo que estão na cidade fazem este trânsito, mas todas que buscam experimentar uma nova forma de religiosidade. Quando se fala em pós-modernidade, é necessário ressaltar que a religiosidade é presente neste conceito, porém nesta era, as pessoas são responsáveis por criar sua própria forma de religião, relembrando a fala de um sertanejo elaborada por Guimarães Rosa em Grande Sertão - Veredas:

Muita Religião, seu moço! Eu cá, não perco ocasião de religião. Aproveito de todas. Bebo água de todo rio... Uma só, para mim é pouca, talvez não me chegue. Rezo cristão, católico, emprenho a certo; e aceito as preces do compadre meu Quelemém, doutrina dele, de Cardéque. Mas, quando posso, vou no Mindubim, onde um Matias é crente, metodista: a gente se acusa de pecado, lê alto a Bíblia e ora, cantando belos hinos deles. (Guimarães Rosa, 1974)

Assim, o povo brasileiro que possui uma multicultura, também passa a possuir uma múltipla filiação religiosa, e que de certa forma, todos vivemos bem.


Nota do Editor: Leandro Ortunes é graduado em Comércio Exterior pelo UNIFIEO, especialista em Relações Internacionais (FAAP), especialista em Ciências da Religião (PUC-SP) e mestrando em Ciências Sociais (PUC-SP). Membro do grupo de estudos Grupo de Estudos de Comércio Exterior UNIFIEO – GECEU. E-mail: leandroortunes@uol.com.br.

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