A escolha de Christine Lagarde para o cargo de diretora-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional) não constitui necessariamente uma surpresa. Pelo contrário, a partir do momento em que os Estados Unidos anunciaram o apoio à candidata, sua eleição pelo Conselho era dada como certa. Entretanto, persistem os velhos dilemas, que não se resumem apenas ao debate sobre governança financeira global: como os Estados Unidos continuam com 17% dos votos da instituição? Por que os europeus detêm cerca de 40% desses votos? Por que o jogo de poder da década de 1940 prevalece? Por que a tradição não dá lugar à criatividade e à inovação? Como socorrer países que precisam de mais recursos do que essas instituições têm para emprestar? O Brasil e demais emergentes esperam que, a despeito da tradição indicar que o FMI sempre seja gerido por um europeu e o Banco Mundial por um norte-americano, o espectro da recente crise, que ainda afeta seriamente o Velho Continente, sirva para demonstrar a necessidade de que o poder no mundo seja distribuído de acordo com a dinâmica da história. As chamadas instituições globalizadoras precisam ser realmente globalizadas. Não é mais factível alijar da capacidade decisória plena países que respondem por 60% do crescimento mundial e que estarão entre as cinco maiores economias do mundo, em menos de quatro décadas, como é o caso dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). O que o Brasil espera, ao dar o seu apoio à eleição de Lagarde, é que as tímidas reformas da estrutura jurássica das instituições de Bretton Woods sejam aceleradas, para que as instituições multilaterais deem conta dos dilemas globais. Nota do Editor: Moisés Marques é coordenador do curso de Relações Internacionais da Faculdade Santa Marcelina. E-mail: moises.marques@fasm.edu.br.
|