O amigo leitor já assistiu ao filme Enjaulados? Então não perca tempo e dê um jeito de encontrá-lo e assista. Este é um dos poucos trabalhos, se não for o único, do cineasta Andy Anderson lançado em 1998. O filme versa sobre os dilemas enfrentados dentro sistema educacional contemporâneo que confia tolamente em uma hipotética benevolência infusa da juventude, fechando as vistas para a torpeza que toma conta de suas almas e que faz-se refletir em seus atos. O filme em questão narra o drama de um professor substituto que se vê agrilhoado pelo sistema que faz das tripas coração para impedi-lo de transfigurar aqueles jovens monstrinhos em seres dignos, prestativos e bons. Todavia, não podia ele nem mesmo desaprovar as atitudes torpes destes, pois, segundo o entendimento da direção do colégio, dos advogados, dos pais e da Dona Norma (a pedagoga) ele estaria ferindo os direitos desses coitadinhos. Diante disso, ele toma uma atitude extrema. Bem, você pode muito bem imaginar o que ele fez: ele os seqüestrou e os enjaulou com o objetivo de educá-los. Trocando por miúdos, o professor resolveu tomar uma atitude extrema frente a uma situação extrema. Ele amava aqueles garotos e não suportava vê-los sucumbindo em hábitos viciosos estimulados sorrateiramente por pessoas que apenas possam de boazinhas. Em meio ao desenrolar da história é levantada a questão: não estaria o professor manipulando os alunos? Não estaria ele adestrando-os? Em resposta, são lançadas essas perguntas: e o que o sistema educacional tem feito? O que a mídia faz? O que a sociedade como um todo faz? Não há como não considerar a hipótese de que nos acovardamos moralmente e cruzamos os braços diante da destruição em massa que está sendo feita nas almas que integram essa geração e é a isso que a película em questão nos chama atenção. Estamos diante da total degradação dos valores e, juntamente com eles, de todo o senso de proporção que dá forma a uma conduta digna e a única coisa que faz-se é lamentar, discretamente, sobre os males que assolam o que convencionou-se, em nossa hipocrisia ululante, chamar de educação, porém, quantos realmente tem coragem de dar um basta e fazer deste a sua atitude perante esse circo infernal, quantos? Falta-nos muita fortaleza para fazer aquilo que é dever de nossa geração e nos sobram cavalares doses de pusilanimidade disfarçada cinicamente de prudência. Definitivamente, falta-nos educação tanto quanto nos sobra dissimulação.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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