Uma lei federal aprovada nos Estados Unidos há mais de 70 anos, intitulada “Buy American” (“Compre América”, em português), determina que o Governo deve dar preferência em suas compras aos fornecedores de bens e serviços locais. Modificada recentemente, a lei também passou a atender duas demandas bem atuais da sociedade de consumo norte-americana: combater a recessão que assola o país e tentar impedir a invasão de importados em geral. Isso é apenas um exemplo de que até mesmo a maior potência econômica mundial se preocupa com a concorrência predatória e desleal e com o seu mercado interno. No Brasil, a invasão de produtos estrangeiros é a maior entre os países do BRIC (Brasil, China, Índia e Rússia). Dados recentes da Organização Mundial do Comércio (OMC) mostram que o Brasil registrou a maior expansão de importações entre as principais economias nos últimos cinco anos, transformando-se no 20º maior importador do mundo. A participação do Brasil na importação mundial já alcança o índice de 1,3%. Isso se deve ao real supervalorizado e à expansão do consumo doméstico. Some-se a isso as empresas que investem em máquinas e equipamentos importados, cujo preço é ilusoriamente metade, porém sem a garantia de peças de reposição e manutenção, que quando solicitadas geram custos abusivos e colocam em risco a própria produção. Diante desses dados e constatações, devemos comemorar ou lamentar? No mínimo, temos que nos preocupar. Dar preferência aos produtos fabricados no Brasil é um dos caminhos para fortalecer nossa indústria, garantindo mais produtividade e tornando-a competitiva. Quem duvida da nossa capacidade de desenvolver novas tecnologias e produtos desconhece realizações brasileiras como a urna eletrônica, o identificador de chamadas telefônicas, o etanol, só para citar alguns inventados e produzidos no Brasil, e que somos campeões mundiais na fabricação de produtos com alumínio reciclado. O Brasil, que caminha para ser um dos maiores exportadores de commodities do mundo, com quase 70% do total exportado, deve começar a reorientar sua política para produtos com maior valor agregado. Hoje compramos produtos manufaturados (muitos de qualidade duvidosa) e exportamos commodities (matérias-primas). Por isso, uma das principais organizações que representam as micro e pequenas indústrias, o Simpi (Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo), iniciou um movimento chamado “Made in BraSil” (assim mesmo, com “S”) – “Compre produtos fabricados no Brasil: o mercado interno cresce, sua empresa agradece e seu emprego permanece”. É preciso agregar valor ao nosso sistema produtivo, qualificar o micro e pequeno empresário, estimular a inovação, oferecer e facilitar o acesso ao crédito, criando um ambiente competitivo para a indústria no País. É urgente a implementação de políticas específicas para proteger o mercado interno, aumentar o poder de compra, e principalmente, criar mais empregos para absorver o crescimento demográfico das novas gerações. E gerar emprego é uma das vocações das micro e pequenas empresas, que são essenciais para o desenvolvimento do País e já demonstraram ser um eficiente escudo anticrise. Juntas, elas somam mais de 6,8 milhões de empresas formais e estima-se em mais de 10 milhões as informais, sendo que as formais são responsáveis por mais de 60% dos empregos diretos, 30% do PIB, 2% das exportações e 13% do fornecimento para o Governo. No auge da crise global, em 2009, as micro e pequenas empresas criaram 1,02 milhões de empregos, ou seja, 91% do total de empregos criados no País. Quando o consumidor opta por um produto importado de qualidade e preço inferior, em detrimento do nacional, pode literalmente pagar caro por isso. Em casos extremos, com o próprio emprego. O que é atraente e imbatível em termos de preço no exterior, não raro esconde salários mensais de US$ 30 (algo em torno de R$ 50,00), péssimas condições, agressões ao meio ambiente, trabalho infantil, entre outras irregularidades. Ao contrário, priorizar a indústria instalada no Brasil garante que a economia vai continuar crescendo de forma sustentável, com mais emprego e renda, que nossas empresas vão ganhar escala e competitividade para aumentar sua participação no mercado externo. A partir de um ambiente mais favorável aos negócios, esperamos que a mortalidade de empresas deixe de ser uma manchete freqüente e que a probabilidade seja cada vez maior de as micro se tornarem pequenas, as pequenas se tornarem médias, as médias se tornarem grandes e estas se tornarem multinacionais brasileiras. Nota do Editor: Joseph Couri é empresário e presidente do SIMPI-SP (Sindicato das Micro e Pequenas Indústrias do Estado de São Paulo).
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