O dia é um daqueles que você levanta, olha o mundo pela janela, depois desvia para o calendário, lembra o poeta Apollinaire e com sotaque nordestino, repete quase num sussurro, versos do poema “Point Mirabeau”, que diz: Les jours s’en vent. Je demeure. Significando: “Os dias se vão. Mas eu permaneço”. E neste permanecer, “passam os dias e passam as semanas. Nem o tempo passado nem os amores retornam. Sob a ponte Mirabeau desliza o Sena. Vem a noite, o tempo não demora. Os dias se vão. Não chegou minha hora”. E, enquanto não chega a minha hora, o que faço é procurar o porto seguro da verdade, mas, por mais que medite entorno dos problemas existenciais, só me ocorre idéias preconcebidas. Se me angustio e indago a razão do chegar e partir, principalmente do partir, terei que me contentar com o que já foi dito: a finitude está sempre na base das dúvidas, indagações e da inquietação conseqüente. Então, eu me volto para a poesia, não necessariamente buscando conhecimento; mas sensibilidade poética, pois, como afirma o poeta Mendes Melo, através dela, também se diz, se pergunta, se afirma.
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