Há algum tempo escrevi um artigo intitulado ‘A culpa é da bola’, inspirado nos comentários de um jogo entre Corinthians e Grêmio de Presidente Prudente. Diante da derrota do Brasil para o Paraguai, fiz um remake do mesmo, só que agora, ao invés da bola, a culpa é do campo (ou seria a Argentina que boicotou o campo?). É bem interessante a caça às bruxas que se inicia após um jogo entre Brasil e Paraguai: “foi excesso de estrelismo”, “foi falta de comando”, “foi falta de sinergia”, “foi culpa do campo”... hã? O campo também entrou no jogo?!?!... Pois é, o jogo ao qual me refiro aqui não é a semifinal da Copa América, mas um dos jogos mais clássicos da vida, que explico a seguir.
Esse “clássico” é conhecido como Triângulo Dramático (ou como diria Galvão Bueno: drrrrrramááááááático!). Os papéis, ou posições, ocupados nesse jogo são: “vítima”, “perseguidor” e “salvador”. Vamos entender como eles funcionam: Vítima: como o próprio nome diz, quando interpretamos esse papel costumamos ser os “coitadinhos” da história. Somos perseguidos e injustiçados: o mundo conspira contra nós. Salvador: ao interpretar esse papel nos tornamos o “ombro amigo” da vítima. A consolamos, reforçando suas crenças limitantes e, com isso, não favorecemos o “olhar” ideal sobre a real situação. Perseguidor: quando “atuamos” como perseguidores, tendemos a “maltratar” a vítima. Somos os “malvados” da história. Enquanto, vítimas tendemos a encarar chefes, pai e mãe, colegas com boa performance e até mesmo o campo, a bola, juiz como nossos perseguidores. Estar em um jogo psicológico, ocupando qualquer um desses papéis, não é bom para ninguém. É preciso entender quando o jogo se processa para “cair fora” e encarar as situações com neutralidade, tentando entender suas causas e buscando soluções para os problemas. É possível escolher fazer ou não parte do jogo, assim como escolher como reagir diante das situações do cotidiano. Para isso, é importante entender o quanto essas “desculpas comuns” nos prejudicam, sejam em nosso dia a dia como questões relacionadas ao trânsito, cansaço, “perder a hora”, doenças, educação que tivemos dos nossos pais ou sejam nos jogos de futebol: culpa do campo, culpa da bola... Essas são desculpas que podem até confortar, mas não resolvem nossos problemas. Não são poucas as pessoas que conheço que, vez ou outra, insistem em criar a justificativa perfeita para seus insucessos, sendo que, é claro, a culpa nunca é fruto de suas escolhas e atitudes, mas de algum fator externo ao seu controle, fatores que insistem em atrapalhar o perfeito andamento de suas vidas. Fico pensando se, em algumas situações, elaborar essas desculpas não é mais trabalhoso do que pensar antes de agir, do que medir as consequências, do que consertar as coisas erradas. É que algumas delas têm racionais tão bem planejados e conectados que chega a ser irracional o tempo que devem levar para ficarem prontas e serem “aceitáveis”. O mais intrigante de tudo isso é ainda outra questão: a quem essa justificativa conforta? Será que a torcida brasileira se conformou em ver sua seleção de estrelas perder entendendo que sua capacidade foi boicotada pelo campo? Será que os patrocinadores entenderam que “o alinhamento entre marte e saturno” atrapalhou a seleção? Será que o técnico aceitou sua derrota por conta de uma sequência de eventos não favoráveis ocorridos durante o jogo? E mais: será que os jogadores voltaram para casa satisfeitos por terem “dado seu melhor”? A pergunta é: o que você faz com o que fazem com você? Você não pode controlar a atitude dos outros, mas pode controlar a sua reação. A isso chamamos de responsabilização. Enfim, quem sou eu pra me meter nas desculpas alheias? Prefiro me apoiar na célebre frase do Benjamin Franklin que diz: “Pessoas que são boas em arranjar desculpas raramente são boas em qualquer outra coisa”. Nota do Editor: Carolina Manciola é gerente de consultoria e treinamento da Triunfo (www.grupotriunfo.com).
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