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Opinião
25/07/2011 - 17h01
Turismo carece de empresários qualificados
Francisco Calasans Lacerda
 
Uma reflexão necessária

É impressionante a falta de sensibilidade dos empresários do setor de hotéis, restaurantes e bares em relação à remuneração de seus empregados. Todos nós sabemos que nosso País tem potencialidade gigantesca para o desenvolvimento do turismo.

Todos nós sabemos, também, que é de suma importância nesse setor o aprimoramento profissional, principalmente no manejo com idiomas estrangeiros, além de razoável correção no uso do nosso Português. Agora, essa preocupação começa a tomar corpo em função dos grandes eventos desportivos que serão sediados pelo Brasil. Evidentemente, para que se tenham profissionais a esse nível, faz-se necessário que os empresários do setor sejam também aperfeiçoados, pelo menos ao ponto de serem capazes de entender o óbvio. Por exemplo: entender que não se pode exigir uma qualificação razoável sem uma correspondente remuneração, ou seja, igualmente razoável. Isto é o óbvio.

Todavia, para que se tenha uma ideia da insensibilidade humanitária e da incompetência empresarial reinante no setor, basta a constatação de que o melhor piso salarial da categoria no País, que é o do SINTHORESP, R$ 770,56, é duzentos reais a menos do que o piso da construção civil, para um servente de pedreiro. É claro que todo trabalho é digno e de grande importância social. Porém não se ter a sensibilidade para entender que o atendimento ao público requer melhor qualificação é declarar-se incompetente como empresário. É declarar-se retrógrado ao ponto de não inspirar a menor esperança de contribuição para o desenvolvimento setorial de que tanto carece o Brasil.

Recentemente, em 26/06/2011, Felipe Frazão do Jornal O Estado de São Paulo publicou uma entrevista com Helmut Waser, um profundo conhecedor da hotelaria, de origem suíça, que esteve em visita ao Brasil, o qual observou a falta de estímulo aos profissionais que ocorre em nosso País onde a remuneração é muito baixa e não há por parte do empresário hoteleiro interesse em aproveitar aqueles profissionais que concluem cursos universitários especializados etc. O jornal foi exibido aos representantes patronais, integrantes da comissão do sindicato da categoria econômica, em mesa de negociações realizada recentemente, mas não causou o menor constrangimento. Chega a ser angustiante e revoltante quando nas negociações que estão ocorrendo agora, para quem tem data base em primeiro de julho, a postura radical dos representantes patronais: a razoável pretensão dos trabalhadores, no sentido de obterem aumentos reais gradativos, até que se alcance o valor que está sendo pago na construção civil, a um servente de pedreiro, é rechaçada principalmente pelos representantes de grandes hotéis e de luxuosos restaurantes, que oferecem como contraproposta pagar apenas 70 por cento da inflação acumulada. Ora, pagar menos do que o índice inflacionário acumulado é o mesmo que propor uma redução de ganho. Significa que esses patrões, ao contrário do que se pudesse esperar acham que trabalhadores com a qualificação que a realidade está a exigir - bom nível de instrução e conhecimento de pelo menos um idioma estrangeiro, - devem se distanciar, para baixo, do quanto ganho por um servente de pedreiro. Que lástima! Uma vergonha nacional! Isso acontece no momento de maior aquecimento na hospedagem, com os hotéis e restaurantes abarrotados de clientes.

O retrocesso patronal começa a revelar uma grosseria de proporção tal, que chega às raias da ofensa moral. Sim, porque demonstra arrogância e instinto escravocrata e isso ofende a cidadania.

Urge uma requalificação dos empresários deste setor, para que alguma evolução se possa esperar para o Turismo do Brasil.

Ao Senhor Ministro de Estado do Turismo: se alguma coisa Vossa Excelência pode fazer, não perca tempo, por favor. Requalifique os empresários e não gaste o dinheiro público na qualificação da mão de obra enquanto não houver estímulo para a permanência de trabalhadores qualificados no setor. A menos que se admita que o Turismo seja uma atividade de somenos importância para o Brasil.

Ressalte-se que o salário mínimo a que se refere o Inciso 4, do Art.7 inserido no Capítulo II - DOS DIREITOS SOCIAIS - na Constituição Federal, equivale atualmente, segundo estudo do DIEESE, a mais de R$ 2.200,00. Aliás, atualizando-se o salário mínimo concedido por Getúlio Vargas em 1954, chega-se de igual modo a valor semelhante. Logo, a consciência humana está a sugerir que sejam concedidos aumentos de forma paulatina na direção desse ganho essencial. É questão de ética, de cidadania, de amor à Pátria.

Lembrai senhores, que a economia dos Estados Unidos da
América do Norte chegou a ser a maior do Planeta porque pode contar com empresários de visão como Henry Ford que elevou o salário mínimo de três, para seis dólares semanais.

Alguma coisa há que ser feita conjuntamente: Ministério de Turismo, Ministério do Trabalho e Emprego, CONTRATUH - Confederação dos Trabalhadores em Turismo e Hospitalidade e a própria Comissão Parlamentar de Turismo e Desporto.

Evidentemente, os Ministros de Estados e os membros da Comissão não poderão impor à classe empresarial do setor que paguem melhores salários. Poderão, entretanto, convencê-los de que esse é o melhor caminho. Enquanto um trabalhador do Turismo tiver piso salarial inferior a um servente de pedreiro. Com efeito, em São Paulo o piso salarial para servente de pedreiro e outras funções não qualificadas, é R$ 910,80, enquanto empregados de grandes hotéis e restaurantes de luxo é R$ 770,56. A diferença entre o ganho de um trabalhador não qualificado da construção civil e o trabalhador da hospitalidade, de quem se exige razoável qualificação, é R$ 140,24, a favor do não qualificado. Isso ocorre no momento em que os hotéis e restaurantes andam lotados.

Por conseguinte, antes de se investir dinheiro público na qualificação de mão de obra para o setor é preciso que se cuide de melhorar a mentalidade do empresário.

Sem nenhum demérito, afinal todo trabalho é digno. Mas, querer que alguém busque qualificar-se para ganhar menos do que um trabalhador não qualificado da construção civil não guarda a menor coerência.


Nota do Editor: Francisco Calasans Lacerda é Presidente do Sinthoresp, Presidente em Exercício da CONTRATUH e Diretor Jurídico da NCST.

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