Vivemos um perigoso momento. Uma enxurrada de dólares entrou no mercado brasileiro nas últimas três semanas e fez a cotação da moeda despencar para os níveis de 15 de janeiro de 1999. O fenômeno pode causar um grande impacto, pois tanto o mundo quanto o Brasil de hoje são muito diferentes do que os de 12 anos e meio atrás. Os afoitos que se acautelem, pois correm o risco de jogar alto, ganhar ou perder, também alto. Ninguém, por mais categorizado que seja, é capaz de desenhar o cenário das próximas semanas, pois ele depende de diferentes variáveis, supostamente a maior delas relacionada ao aumento (ou não) do endividamento dos Estados Unidos, a maior economia mundial, que será decidido até 2 de agosto. Pagando juro alto e vivendo um momento de euforia econômica, o Brasil atraiu, no primeiro semestre, US$ 32,5 bilhões de investimentos, a maior entrada de volume registrada desde 1947, ano em que o Governo começou a fazer o controle. Tanto que o Banco Central vem comprando dólares e o Ministério da Fazenda promete medidas de proteção ao câmbio. Do jeito que está, a cotação favorece quem quer importar ou viajar ao exterior, mas penaliza os exportadores brasileiros, que não têm competitividade de preços para seus produtos no mercado externo. Essas duas vertentes podem levar ao desequilíbrio, nocivo ao país. A febre do consumismo propiciada pelo dólar barato fatalmente descapitalizará brasileiros que aqui poderiam investir ou consumir. Seu dinheiro, amealhado na economia nacional, acaba, assim, criando empregos e movimentando a economia de outros países. A falta desses recursos trará dificuldades à indústria e os negócios nacionais. Aqueles que, aproveitando o cambio baixo, se aventurarem a tomar empréstimos em dólar, fatalmente terão problemas, como já ocorreu num passado recente, quando as cotações subiram e os deixaram endividados e, até, malograram seus empreendimentos. Imposto como moeda internacional, o dólar vem enfrentando problemas há anos. Sofreu um grande golpe durante a crise de 2008 e, segundo especialistas, sua tendência é de queda real. Acabaram-se seus anos de glória e de certeza quanto à sua estabilidade. Se os EUA forem obrigados a “dar o calote” em sua dívida (no caso do presidente Obama não conseguir aprovar no Congresso o aumento do endividamento), a moeda fatalmente sofrerá novos revezes. A economia brasileira precisa acautelar-se para evitar que a bolha especulativa coloque a perder os esforços que o país empreendeu para chegar ao atual estágio. Tem de aproveitar o bom momento – todos querem investir aqui – para criar regras rígidas e evitar o descontrole do “entra-e-sai” de recursos. Quem quiser gozar dos juros pagos pelo nosso mercado tem de, pelo menos, aqui permanecer por um período em que seu capital produza algo para a economia nacional. Se não for assim, que nem venha... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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