A atenção internacional está voltada para a anunciada possibilidade de os EUA terem de dar o calote em sua dívida. E o que é que eu tenho com isso? – perguntaria o cidadão brasileiro desavisado. Temos muito, pois o Brasil é o terceiro maior credor externo da economia norte-americana. O tesouro daquele país nos deve mais de US$ 270 bilhões. Para se ter uma idéia, isso é, mais do que toda a dívida externa do Brasil (US$ 230 bilhões) e quase 80% das nossas reservas externas, de US$ 344 bilhões. Equivale a 13% do que a economia brasileira produz o ano todo (em 2010, nosso PIB fechou em US$ 2,090 trilhões). Se os EUA “quebrar”, corremos o risco de quebrarmos juntos. Portanto, temos tudo a ver com a guerra, que travam democratas e republicanos, no congresso norte-americano. Em vez da dita “marolinha” de 2008, poderemos ter de enfrentar o “tsunami”. Erroneamente – na nossa modesta opinião – todas as vezes que quer conter um problema, o governo brasileiro recorre ao aumento de impostos ou da taxa de juros. Isso pode até resolver ilusoriamente o problema imediato, mas deixa marcas profundas na economia. Tanto que somos, hoje, uma das maiores cargas tributárias do planeta e estamos muito longe de possuir bons serviços públicos. O contribuinte paga e não tem a justa contrapartida equivalente. As últimas medidas para conter a queda do dólar parece soprarem dentro de uma nova filosofia que não a simplesmente arrecadatória; também prevê a contenção de juros. Felizmente, mas é preciso mais medidas que fortaleçam a produção nacional. Durante todos esses anos em que festejamos a estabilidade, a redução da dívida externa, a autonomia petrolífera e outras ditas vitórias econômicas, as classes produtoras brasileiras vêm amargando problemas que a enfraquecem. A alta carga tributária e o câmbio desfavorável têm sucateado a nossa indústria, cujos produtos perderam a competitividade no mercado externo. Para agravar a situação, o mercado interno também sofre o ataque dos produtos vindos do exterior – especialmente da China – que chegam com preços subsidiados ou resultantes de práticas de produção reprováveis. A guerra de mercado sempre existiu. Nossos produtos já sofreram muito com medidas protecionistas dos países consumidores, especialmente EUA e Europa. Ainda existem restrições mas, no Brasil de hoje, parece que se esqueceu de tudo isso. Vivemos engolfados de democracia e de bons resultados econômicos, conseqüência do sacrifício empresarial, e nos esquecemos de cuidar de nossos interesses. A falta de uma política mais agressiva de proteção aos produtos brasileiros no exterior e a facilidade como os estrangeiros entram em nosso mercado, já nos custou milhares de empregos e renda. Fez, inclusive, empresários daqui irem produzir na China, dando emprego lá com o dinheiro das vendas cá. Precisamos torcer para que os americanos não precisem dar o calote e – mais que isso – temos de desonerar a produção o suficiente para que nossos produtos sejam competitivos no exterior e, principalmente, possam enfrentar internamente com os importados. Questão de sobrevivência econômica... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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