"Os lábios mentirosos são abomináveis ao Senhor, mas os que praticam a verdade são o seu deleite." (Provérbios 12.22)
Há alguns anos atrás, estava sentado na cantina onde leciono, quando percebi uma jovem do lado oposto, bem em frente à minha mesa. Baixinha, de pele morena, rosto arredondado, olhos negros e pequenos. Não seria percebida por mim, pois era grande o número de alunos que se misturavam naquele ambiente. Se não fosse por um detalhe: usava máscara no rosto. Era estudante do curso de Odontologia, fazendo o segundo ano. O uso de tal aparato de proteção devia-se ao risco de contrair infecção. Pois, apresentava baixa imunidade em decorrência à quimioterapia que fora submetida para combater uma neoplasia maligna. Todas essas informações foram dadas por ela aos seus colegas e professores e acabou se espalhando pelo “campus” da Universidade. Sua doença, muitas vezes impedia de fazer provas nas datas agendadas e os docentes sensibilizados faziam tudo para aprová-la no final do ano letivo, visto a sua debilidade. Entretanto, sempre caía em contradição quando questionada sobre a sua doença. As respostas eram evasivas e incoerentes. Com o tempo, alunos e professores perceberam que tudo aquilo, não passava de uma estratégia para passar de ano. Então, como faltava muito nas aulas e não estudava, passou a ser reprovada sistematicamente. Tudo isso a levou a deixar a escola. Todavia, quando chegou o dia da colação de grau de sua turma. Vestida de beca apareceu na solenidade oficial e assentou-se junto com seus antigos colegas. Obviamente, como seu nome não constava da lista dos formandos, foi solicitada que se retirasse do local. Pois, tratava-se de uma celebração oficial. Ela tentou se justificar, dizendo que simplesmente queria sair na fotografia da turma. Mesmo assim, foi convidada a sair. Portanto, sendo uma vez mais, desmascarada. No primeiro dia útil após a colação, o diretor do curso de Odontologia recebeu uma visita inusitada. Tratava-se do irmão da referida aluna. Emocionado reclamou indignado da atitude da faculdade em impedir a formatura de sua irmã. O diretor esclareceu que ela tinha deixado o curso há dois anos, não completando os estágios necessários para sua graduação. Ele não convencido, informou que sua irmã havia dito em casa, ter sido designada a fazer um estágio em outra cidade, que possibilitaria a conclusão do curso. O diretor, naquele momento percebeu que a família tinha sido enganada. E educadamente informou que a escola não mantinha convênios de estágios com outras instituições, sendo todo tempo escolar preenchido nas dependências da própria universidade. Então, o reclamante ciente do engodo, desanimado, deixou o recinto. A tentativa de burlar o sistema é comum nas relações humanas. Todavia, no meio escolar é uma prática corriqueira e infelizmente, muitas vezes tolerada. Particularmente a “cola”, alunos tentam fraudar o processo avaliativo de sua instituição com intuito de obter boas notas nos exames. Os meios escusos utilizados para conseguir aprovação, não compensam os riscos e acabam revertendo contra o infrator mais cedo ou mais tarde. No presente caso, a tentativa da aluna extrapolou o tolerável. Certamente, se ela esforçasse nos estudos, conseguiria obter seus objetivos com muito mais facilidade. A tentativa de se esconder atrás de uma doença grave fictícia para conseguir se formar sem maiores esforços foi muito mais doloroso e improfícuo.
|