Após algumas horas de sessão, a Câmara Municipal de uma dessas cidades, preocupada com o "bem-estar" do cidadão, decide aprovar um projeto de urbanização. Pois, é de suma importância para os representantes do povo que a cidade respire um ar puro. Então, um dos autores do projeto dirige-se ao prefeito e o cumprimenta: - Vossa Excelência, tenho certeza que este projeto fará um bem enorme a tua imagem, visto que ela não anda lá muito bem, não é?! - Claro, companheiro! Uma árvore aqui, uma rua asfaltada ali e, com certeza serei reeleito. - Não se preocupe, vossa excelência. Empenharei-me o máximo para que isso se concretize. Chega a época da eleições. O prefeito e seu vereador vão para o corpo a corpo em busca do precioso tesouro muito valorizado nessa época, "o voto do eleitor". Com um largo sorriso estampado no rosto, o prefeito cumprimenta um a um com muita paciência e simpatia. Faz uma longa caminhada pela periferia. Abraça e beija as crianças passando de porta em porta. Até que vai ao encontro com uma senhora aposentada, cumpridora dos seus deveres que está sempre em dia com os impostos. Ele se aproxima e a cumprimenta: - Boa tarde! Como vai a senhora? Vejo que a árvore que mandei plantar pelo bairro deixou a frente da sua casa mais atraente! - Seu prefeito! Tenha a bondade. Entre por favor. Sabe o que é? É que estou passando por uma dificuldade de saúde. Os remédios estão muito caros e com minha aposentadoria não consigo nem comer direito. - Como é o nome da senhora? - Dona Santina, seu prefeito. É que quando vou ao posto de saúde eles nunca tem o remédio que preciso. - Não se preocupe, dona Santina. Vou pedir ao meu assessor que entre em contato com o secretário de Saúde e verifique isso para a senhora. - Muito obrigado. O senhor parece ter um bom coração! - A senhora gostou da árvore? - Sim, gostei muito. O senhor está de parabéns! - Preciso ir. Conto com o apoio da senhora. - Pode deixar! Depois de algum tempo, aquela árvore foi crescendo e invadindo a casa de dona Santina. Então, esta foi ter com o prefeito, mas não conseguiu êxito. Persistente, continuou tentando, em vão. Foram inúmeros pedidos de dona Santinha para que alguém fosse podar a árvore. Até que em um determinado dia, dona Santinha teve uma inesperada visita. Alguém, aproveitando-se da ausência dela, subiu no pé de árvore e pelos galhos que invadiam a casa conseguiu ter acesso a ela. Ao retornar, dona Santinha teve uma triste surpresa. Sua casa havia sido roubada. Revoltada com a situação, pegou o facão e decidiu ela própria cortar os galhos da árvore. No entanto, quando achava ter resolvido o problema, foi aí que ele duplicou. Fiscais da prefeitura perceberam que uma de suas árvores estava morrendo e concluíram que isso era devido ao corte feito de forma imprópria. Dona Santinha foi notificada e condenada a pagar uma multa de aproximadamente 5 mil reais. Contudo, esta recorreu. E o processo se arrastou por oito anos. Acusada de ter matado uma árvore que continua viva e dando "frutos", a aposentada, com um salário de miséria, foi a prefeitura e quitou a dívida. Agora com uma ficha suja por ter matado uma árvore que continua viva e bem em frente a sua casa...
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