| José Ronaldo dos Santos |  | | | 22 de agosto, Dia do Folclore. |
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Nesta semana (21 a 27) comemoramos a Semana do Folclore. Quem se lembrou disso? É necessário ter uma ocasião para pensar e festejar tudo aquilo que passou a ser parte do folclore, da cultura popular. Afinal, tem uma sabedoria e/ou uma resistência que enfrenta o tempo, que nós usamos em diversas ocasiões como recurso imprescindível, mas por preconceito não queremos admitir como cultura popular, como saber preservado pelos mais pobres. É folclórico aquilo que só é praticado por uma minoria ou sobrevive na saudade de forma decorativa, ou seja, precisamos enxergar de vez em quando para ativar nossas reminiscências. Tudo aquilo a que recorremos de vez em quando, que “deixou de ser essencial” na sociedade consumista e individualista atual, classificamos como folclore. Eu prefiro, em muitas ocasiões, recorrer ao termo de cultura popular para mostrar uma sutil diferença entre as coisas que quase não sentimos necessidade e as coisas que, regularmente, apelamos como útil, que nos satisfazem. Vejamos as duas situações: 1- É folclórico as técnicas de caçadas que supriam a mesa dos pobres caiçaras. Podem estar detalhadas em museus para que as gerações posteriores conheçam a criatividade que nasce da necessidade. Na minha varanda, só para ilustrar, guardo com muito carinho o bodoque confeccionado pelo amigo Irineu. É de guatambu. Quem já viu um bodoque ou conhece o guatambu, a sua enigmática/curiosa semente? Na confecção do bodoque está explícita a sabedoria prática dos antigos caçadores: o recurso do arco para lançar flechas sofreu uma adequação para atirar pedras. Agora não precisamos mais disso. O exemplar que tenho em casa é somente como recordação de um amigo e dos tantos bons bodoqueiros (Mané Gaspar, Tião Armiro, Joaquim Sirvino, Janguinho do Morro e outros) que pude testemunhar na minha infância. Também o disponho aos meus filhos e visitantes para prática de arremessos com o intuito de sentirem o quanto é difícil ser habilidoso com tal instrumento. (Muitos já arroxearam a unha!) 2- Digo que é cultura popular aquilo que estou sempre buscando para uma solução imediata. Exemplos: Qual mato usar para aliviar essa dor? O que vem depois de um sudoeste de três dias? Também pode ser sempre desafiante, mesmo ninguém sabendo de que tempo é. O que seria a adivinha proposta pela minha vó Eugênia? “Ele morre queimando, ela morre cantando”. Ou essa outra: “São três irmãos: o primeiro já morreu; o segundo vive conosco e o terceiro não nasceu”. Quando a gente queria resposta, a sabida vovó respondia: “Use a cabeça para não enferrujar!”. É isso! Viva o saber com sabor que vem dos antigos, que nos supri nos dias de hoje!
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