Apenas os medíocres repudiam os heróis com insídias e bravatas rancorosas. Somente as almas sebosas são incapazes de reconhecer a grandeza em outrem (amigo ou inimigo). Aliás, esses tipinhos abundam hoje em dia, abominam a figura destes por simplesmente humilhá-los com sua pujante presença que tanto castiça sua pequenez. Tá, mas de que é feito um herói? A questão, em si, é deveras profunda, visto que poucas são as almas que atingem a envergadura dos notáveis, a dimensão daqueles que se elevam acima da massa amorfa que meramente se amolda a baixeza dos tempos. De mais a mais, todos aqueles que resistem, criticam e fazem pouco do reconhecimento da grandeza alheia são justamente as pessoas de mais baixo valor e que, no fundo, anseiam por ser referenciadas como figuras exemplares, ao mesmo tempo em que são incapazes de reconhecer a sua própria nulidade. Pois é, a inveja é uma m., mesmo disfarçada de criticidade. Outro problema presente nesta impostura que se faz reinante em nossos dias, é o sutil sentimento de rancor e ingratidão que se cultiva frente à própria sociedade e em relação aos que nos antecederam. No lugar da gratidão e da reverência àqueles que se fizeram maiores que as Eras, cultivam-se descaradamente uma soberba desmedida em misto com um tosco sentimento de auto-piedade. Todos, ricos ou pobres, de algum modo, gostam de posar de coitados, de injustiçados e exigem ser respeitados por se portarem deste modo. E pior! Muitos destes querem convencer os demais que agindo tal qual eles, como bebês chorões, seriam mais dignos do que, por exemplo, um Luis Alves de Lima e Silva, um Irineu Evangelista de Souza, ou Joaquim Nabuco e, porque não, um Mário Ferreira dos Santos. Na verdade, falando em termos morais, é deprimente vermos o nível pueril a que chegamos. Por não cultivarmos, devidamente, em nossa memória, imagem destes que literalmente encarnam os mais distintos valores que hoje perdemos totalmente o senso da hierarquia dos mesmos, sepultando a capacidade de reconhecer a grandeza e, desde modo, cultiva-se, de modo tacanho, a pequenez e a mesquinharia em seu lugar como se estas fossem equivalentes à primeira. Não é à toa que hoje a tal cidadania faz-se sinônimo da reles manifestação do jus sperniandi. Não é por menos que qualquer tomada de decisão que exija fortaleza ou magnanimidade é esquivada e olimpicamente justificada com a orgulhosa e covarde afirmação de sua fraqueza e nulidade. Pois é, após o crepúsculo dos heróis, temos a aurora dos pusilânimes. É a nossa época.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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