A instalação de rede de comunicação digitalizada e especial, radar, GPS, computadores e até dos recém-lançados “tablets” nas viaturas é a nova onda em todo o país. A adoção de tecnologia faz o mesmo efeito midiático antes cumprido pela compra de viaturas, coletes e pistolas que substituíram o velho revólver 38. Isso é importante e imprescindível, mas nada surtirá efeito sem que hajam policiais saudáveis, treinados e motivados para empregar a parafernália eletrônico-digital na sua missão de combate ao crime e na proteção da sociedade. As ferramentas modernas são bem-vindas, mas devem ser encaradas exclusivamente como ferramentas colocadas nas mãos de profissionais que, com elas, poderão ter melhor rendimento em suas atividades. Infelizmente, os policiais de todo o país enfrentam a defasagem salarial. Os governos estaduais, seus patrões, não conseguiram acompanhar a evolução das necessidades da classe e, como conseqüência, a remunera insuficientemente. O policial, que faz sua jornada de trabalho combatendo o crime em viaturas que agora passam a ter os avançados recursos eletrônicos, não ganha o suficiente para ter sua condução e nem morar em segurança. Depois do trabalho, ele é obrigado a ir para casa de ônibus, exposto aos marginais que perseguiu no trabalho e nem pode revelar sua condição de policial no bairro onde mora, que pode ser até uma favela, pois se o fizer, corre o risco de ver sua família subjugada. O “bico” tem sido a válvula de escape para muitos evitarem a má situação decorrente do valor do soldo, mas o penaliza porque é realizado na hora em que deveria estar descansando e ainda oferece riscos. Muitos policiais já morreram no “bico”, que agora as polícias começam a institucionalizar através da chamada “função delegada”, onde o profissional, depois de cumprir sua jornada no Estado ou em suas férias, vai trabalhar para prefeituras e outras instituições conveniadas. Da mesma forma em que agem modernamente, adquirindo equipamentos e tecnologias para as policiais, os governos deveriam fazer uma ampla revisão no quadro salarial de seus policiais – civis e militares – para trazê-lo à realidade e reconhecer as carências atuais da classe. A sociedade evoluiu e, com ela, também evoluíram o crime e os meios de combatê-lo. Há que se reconhecer a especificidade da profissão, que gera necessidades próprias. O policial precisa trabalhar concentrado em sua tarefa, descansado física e emocionalmente saudável para, no momento exato, tomar as decisões inerentes à sua missão. O momento de atirar ou não atirar, é a principal delas, que interessa a toda a sociedade. Esse homem ou mulher, que dá sua saúde e até a própria vida à Segurança Pública, necessita de proteção. O bom salário é a principal das proteções, como provam a Polícia Militar do Distrito Federal, Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal que hoje pagam bem seus profissionais e evoluem a olhos vistos. Srs. Governadores, acordem para essa realidade, acabem com as greves e descontentamento dos policiais e dêem à população uma polícia à altura das necessidades. Profissionais e tecnologia já existem. Falta resolver a equação salarial... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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