Quando criança meu primeiro herói foi “O Vigilante Rodoviário”, seriado brasileiro exibido na década de 60 que assistia na velha televisão Orbiphon, onde o inspetor Carlos e seu cão Lobo lutavam contra o crime nas estradas brasileiras, a bordo de uma motocicleta Harley-Davidson ou de Simca Chambord 1959. Esse herói brasileiro tinha a tarefa de enfrentar o crime, ajudar e ser honesto como todo bom policial. Ah, a honestidade. Bons eram os tempos do Vigilante Rodoviário quando o adjetivo honesto era considerado regra e não exceção e o que se esperava de todos. E aí como se dizia naquela época “apaguei a televisão” e a vida me contou sussurrando ao meu ouvido antes de dormir: “Olha guri, mentir, roubar e ser desonesto faz parte do comportamento humano”. Confesso que não acreditei, mas a vida tinha razão. Em recente pesquisa constatou-se que 52% dos pesquisados em um universo de mil entrevistados em nove regiões do país informaram ter comprado algum produto pirata em 2011. Mas pirataria não é crime? É, mas o preço é mais barato. Outra coisa que todo mundo já viu, deixou para lá ou praticou o consumo de bolachas, refrigerantes, salgadinhos e iogurte no interior de supermercados cujas embalagens são descartadas antes dos caixas. Todo mundo sabe que esta prática é um ilícito penal conhecido por furto. E como formas de penitência dizem: “Os supermercados ganham demais” ou o pior “O mundo é dos vivos”. Outro fato que também impressiona é o entendimento desse pessoal de blitz de trânsito, só pelo fato do condutor estar com a documentação irregular e na abordagem entregar o documento do veículo atrasado, habilitação vencida e o dinheiro, poderá configurar suborno. Tá brincando! Cadê o jeitinho brasileiro? Esses são os problemas, acostumamo-nos com desonestidade diária dos escândalos e denúncias com o dinheiro público, como que ele não tivesse dono e o pior até hoje não vimos ninguém ser penalizado, mesmo tendo mais fidedignas imagens desta turma escondendo o dinheiro recebido. Somos farinha do mesmo saco, reflexo de uma sociedade. Que diferença tem o subornador do fiscal de trânsito, do consumidor de produto pirata e do político que guardou o dinheiro na cueca? Nenhuma! Essas coisas só acontecem porque deixamos, somos complacentes com a bandalheira, porque votamos sem examinar a biografia dos candidatos, não nos manifestamos diante da incompetência e das promessas não cumpridas e esquecemos em quem votamos um dia após o pleito. Só vamos conseguir ser uma nação, quando soubermos que cidadania é ter deveres e direitos, é não sermos tolerantes com os que jogam lixo na rua, com os motoristas que não param na faixa para os pedestres ou os pichadores de prédios e monumentos. Temos obrigação sim, com as gerações futuras em sermos uma nação de verdade e não preocupada só com o próximo feriado, mas com a política, com os recursos públicos e com os governantes, pois cansei do apelido de “analfabeto político”. Nota do Editor: Ronaldo José Sindermann (sindermann@terra.com.br) é advogado em Porto Alegre, RS.
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