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Opinião
21/10/2011 - 15h06
Professores: sofredores e educadores?
José Roberto Castilho Piqueira
 

Abro meu correio eletrônico e encontro a gentil mensagem de um velho amigo: parabéns professores, sofridos educadores, pelo seu dia. Fico feliz, mas como todo professor começo refletir sobre o escrito. Será que minha profissão é sofrida? Depois de quarenta anos de sala de aula, giz e lousa, sou educador? Desde pequeno, ver minha mãe ensinar me fascina. Do alto de seus 93 anos, Dona Elisa ainda mostra seus fortes traços de liderança e capacidade de aprender o novo, de maneira positiva e crítica, sem qualquer traço de sofrimento originário de sua profissão.

Vê-la preparar suas aulas e seus antigos flanelógrafos era quase uma magia. Até hoje, quando escrevo na lousa ou faço uma apresentação eletrônica, lembro de seu capricho e perfeccionismo.

Talvez venha daí minha constante ansiedade por dar uma boa aula. A primeira vez que fiz isso a sério foi quando estava no terceiro ano de engenharia. Um colega que tinha um curso pré-vestibular me convidou e lá fui eu, dar aulas de Física.

De lá para cá, nunca mais parei. Trabalhei na indústria, em projetos e serviços de engenharia, mas o ensino sempre foi meu maior prazer. Não sou capaz de lembrar um momento de sofrimento, originário desse trabalho. Lembro dos cursos que lecionei, das disciplinas que aprendi e, principalmente, dos amigos que fiz nessa faina. Sou capaz de entender que, ao longo do tempo fui um privilegiado, vivendo sempre em instituições que respeitaram meu trabalho e de meus colegas recebendo, sempre, remuneração compatível com o esforço.

Talvez esteja aí a solução para eliminar os professores sofredores: bom ambiente de trabalho, respeito e remuneração digna. Estado e mantenedores de escolas particulares poderiam retomar essa receita. Ela é simples e custa muito menos do que parece. Falando agora de educação, não gosto de receber o qualificativo de educador, pois não tenho preparo adequado para isso. Acredito que a tarefa de educar é muito pesada para ser deixada para o professor, exclusivamente.

O professor é parte do processo, mas há a família, os pais, o Estado e a sociedade civil, responsáveis por exemplos de conduta, essenciais para uma educação que privilegie o ser humano e a vida no planeta. Não dá para um simples professor, com algumas horas divididas entre certo número de alunos, competir com a televisão ou com a INTERNET na tentativa de transmissão de valores sociais.

Será que é possível, sem ajuda da família ou do Estado, mostrar quão vazios de valores reais são os reality-shows? Ou como as profissões que requerem estudo e trabalho são tão ou mais prazerosas e rentáveis que às relacionadas ao glamour?

Por essas e por outras, querido amigo, não sou sofrido e não quero ser educador. Sou só um professor de engenharia, que espera um futuro melhor para o país, com ensino público de qualidade, com alunos e professores felizes.

Enquanto esse dia não chega, sigo meu trabalho.


Nota do Editor: José Roberto Castilho Piqueira é vice-diretor da Escola Politécnica da USP e diretor presidente da Sociedade Brasileira de Automática.

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