Faz um tempinho que eu não sei o que é acordar bem tarde. Assistir a programas televisivos pela madrugada. Ir à busca de inspiração para compor crônicas do dia a dia. Tenho sido vencido pelo cansaço do cotidiano. Muitas vezes sou pego pelos meus sobrinhos dormindo antes da janta. Há um mês que não mergulho no oceano da escrita. Preciso urgentemente postar um novo texto no meu blog. Já estou sendo cobrado pelos meus leitores incansáveis. A única coisa que me impede de exercer o ofício de escritor é o TEMPO.
Alguns dos meus alunos me chamam de velho. A princípio fico chateado. Mas depois, entendo cada proposta. Eles querem me ver bem-humorado. Às vezes acho que eles têm razão. Sou um professor jovem. Versátil. Logo, não posso me dar por vencido.
Pra eles, murmuração é coisa de velho...
Uma coisa aprendi - necessito me aventurar. Trilhar por caminhos desconhecidos. Realizar coisas de jovens. Sair do sedentarismo. Conquistar a primeira dama.
De repente, houve um rumor súbito na minha mente.
- Quer saber? - Em que horário executarei tais tarefas? - Havia me esquecido que o meu trabalho exige um tempo integral. ─ Poxa. ─ disse eu.
Normalmente, de segunda a sexta, exatamente às cinco da manhã, ouço um alarme irritante, convidando-me a erguer do sono profundo. Naquele momento, traço uma conversa com o relógio:
- Só mais cinco minutinhos - Digo sempre ao despertar do repouso.
- Indisposto muitas vezes, sinto-me na obrigação de atender o convite deste intruso. Vejo-o como um Golias.
- Sem condições de vencê-lo, acato sua ordem.
- Ok. Já acordei. - repliquei.
Cada dia que se aproximava das férias, o meu ânimo emergia exageradamente.
No corredor da escola, a conversa entre os professores era sem nenhuma criatividade. Todos falavam a mesma “língua” para tentar acelerar o grande dia da tranquilidade física, psíquica e emocional.
À medida que o tempo passava, ficávamos mais fadigados. Era o sistema nervoso periférico em ação conjunta com o central. Um enviando mensagem e o outro respondendo automaticamente.
Em dado momento. Uma professora exausta de suas tarefas diárias. Olhou dentro dos meus olhos e disse:
- Vivenciarei um novo encanto.
- Um novo encanto? - O que é isso? - Pensei comigo.
- Por alguns dias meus prazeres serão outros. Entendeu professor?
- Ah, tá.
- Nem acredito que o “fim” do sofrimento vai parar por alguns dias. Assim poderei despertar da inércia sem nenhuma “opressão”. Que maravilha! - disse eu.
- Será que já posso me despedir, professora? - Faltam apenas dois dias. O que acha?
- Bom... - Ainda não.
- Por que não? - Perguntei.
- Teremos a nossa confraternização no pátio social da escola. Lá, estaremos projetando os nossos dias de interrupção de trabalho. Trocaremos experiências profissionais.
- Você vai perder? - disse Marivalda, professora de matemática.
- Não me faça tal pergunta. Já confirmei minha ilustre presença. - disse eu.
- Ok. Encontrar-nos-emos lá. - disse Marivalda, se despedindo.
Antes de traçar o desfecho de mais uma crônica, quero manifestar minha estima pelos meus diletos alunos. São eles que me ensinam a arte de ser um professor pesquisador. Cada dedo que se levanta a meu ver é uma oportunidade de criar um novo caminho para se obter uma resposta. Pensando assim, sentirei falta de ouvir as vozes altas, as reclamações, as dúvidas constantes, as brincadeiras, as correrias durante o intervalo. Em suma, desejo-lhes boas férias para todos os estudantes. E quer saber o que vou fazer agora?
Descansar.

Nota do Editor: Leandro da Silva é professor de História pela Universidade Gama Filho e escritor. E-mail: prof.leandrosilva23@yahoo.com.br.