Em 1975, quando eu trabalhava no Setor de Obras da Prefeitura de São Sebastião, me apareceu o Seu Tião eletricista com um bilhete escrito a lápis em inglês. Ele e outros funcionários da Prefeitura estavam no ponto de ônibus na Enseada, quando viram uma garrafa boiando na praia, o Seu Tião foi até lá e pegou dentro da garrafa o tal bilhete. Ninguém sabia o que estava escrito, fui então procurar o Zino Militão, que dominava o inglês e ele leu o bilhete. Tratava-se de Michael da África do Sul, pedia para quem encontrasse a garrafa entrar em contato com ele. Isso era comigo mesmo, respondi a mensagem, mandei postais de São Sebastião para ele saber como era por aqui e fui pessoalmente colocar no correio. Para minha surpresa depois de alguns dias recebi a resposta, ele também colocou postais da sua cidade, eram casas de palhas cobertas com folhas de coqueiro, um lugar muito pobre. Fiquei entusiasmada com a resposta e voltei a escrever sobre a vida daqui. Cheguei a receber três ou quatro cartas de Michael, porém ele começou falar de amor... Um dia minha mãe me deu um banho de água fria... falou: - Qualquer hora dessas vai aparecer um negão aqui e aí eu quero ver o que você vai fazer? Pensando no rumo que a correspondência dele estava tomando, parei de escrever para o rapaz da África do Sul e perdi seu endereço. Muito tempo depois ainda procurei pelo endereço nas minhas coisas que estavam na casa da minha mãe, mas nunca mais achei. Porém fico sempre a imaginar que na África do Sul existe alguém que já se comunicou comigo.
Nota do Editor: Maria Angélica de Moura Miranda é jornalista, foi Diretora do Jornal "O CANAL" de 1986 à 1996, quando também fazia reportagens para jornais do Vale do Paraíba. Escritora e pesquisadora de literatura do Litoral Norte, realiza desde 1993 o "Encontro Regional de Autores".
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